Opinião

EDITORIAL | Lembrar e aprender

EDITORIAL | Lembrar e aprender
Crédito: Memorial da Democracia/Divulgação

Não há como passar pelo dia 31 de março sem que os acontecimentos de 1964, quando o País foi desviado da senda democrática e assim permaneceu por mais de duas décadas. Há que voltar ao passado, há que registrar e relembrar fundamentalmente para que os mesmos erros, já exaustivamente documentados, não se repitam. Em primeiro lugar para registrar que o governo do então presidente João Goulart não promovia, no seu tempo, nenhuma marcha em direção ao comunismo, até porque sabia perfeitamente que avanços nessa direção não encontrariam apoio, muito menos sustentação. Ele marchou, sim, em direção da defesa dos interesses nacionais, em questões tão agudas quando a soberania em relação a setores estratégicos, petróleo principalmente, assim como buscou reduzir as disparidades sociais e econômicas, tendo como ferramenta o desenvolvimento econômico autônomo.

Uma proposta que desafiava interesses múltiplos, externos inclusive, que ergueram barreiras que não puderam ser derrubadas. Caso, principalmente, dos Estados Unidos, o grande e principal patrono da causa então vitoriosa e que, primeiro, mobilizou uma vasta rede de propaganda exatamente para encorpar e fazer temida a “ameaça comunista”. Detalhes desse processo são hoje bem conhecidos e estão documentados, comprovando que veículos de comunicação foram financiados para criar o clima para os avanços que se consumaram ironicamente no dia 1º” de abril de 1964.

O então presidente dos Estados Unidos, Lyndon Johnson, assim como o antecessor Kennedy diziam para quem quisesse ouvir que não admitiriam – e deteriam a qualquer custo – qualquer tentativa de criação de uma nova Cuba, em especial na América Latina. Era preciso gerar medo para justificar os passos que viriam, enquanto Johnson, seu embaixador Lincoln Gordon e adido militar general Vermon Walters julgavam perfeitamente legítimo proclamar que Goulart “contrariava os interesses dos Estados Unidos e, portanto, deveria ser removido”. Ninguém, infelizmente, teve força, então, para indagar onde, exatamente, ficariam os interesses brasileiros.

A vitória do golpe, que só se tornou possível porque uma esquadra norte-americana, com armas e suprimentos, estava “em exercício” na costa brasileira, levou ao rompimento democrático. E sustentado, ao longo dos anos, sempre como escudo à dita “ameaça comunista”. Conhecer a história, enxergar a realidade objetiva, é o quanto basta para que a coleção de erros e mentiras não se repita e o Brasil possa, afinal, colocar seus interesses em primeiro plano e garanti-los sem medo, sem mentiras e com liberdade.

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