EDITORIAL | Liderança ou ilusão?

A pecuária brasileira, hoje líder mundial na produção de proteínas animais, enfrentou, no ano passado, grandes dificuldades por conta do aumento de preços de seus principais insumos e as previsões correntes são no sentido de que não haverá alívio no ano que está começando. Estamos falando dos aumentos nos preços dos fertilizantes, que chegaram aos 214% no caso do cloreto de potássio, enquanto a ureia aumentou 161%, ficando a média dos reajustes na faixa dos 100%. Um produtor explica, em termos bem práticos, o significado dessas mudanças: em 2020, com 6,9 arrobas de boi gordo ele comprava uma tonelada de cloreto de potássio e hoje precisa de 17,8 arrobas para comprar a mesma quantidade.
A crise econômica internacional desencadeada pela pandemia é um dos fatores que ajudam a explicar o que se passa, principalmente queda na produção dos principais fornecedores, que passaram a priorizar seus próprios mercados, reduzindo a oferta. Sem entrar em detalhes, analistas dizem acreditar que questões políticas e estratégicas, que evidentemente guardam relação com a posição brasileira nesses mercados, completam o quadro. Interessante notar que os principais fornecedores de insumos – China, Estados Unidos, Bielorrússia e Canadá – são também grandes compradores de carne brasileira, cujos preços evidentemente não oscilaram nas mesmas proporções.
Tudo isso serve para demonstrar uma verdade elementar. O Brasil caminha para se transformar no maior produtor de alimentos no mundo, o que não significa que tenha rompido o ciclo de dependência que os países desenvolvidos impõem aos demais. Temos terras, temos mão de obra qualificada e disponível, tempos um clima muito favorável, mas somos dependentes de insumos essenciais, justamente fertilizantes. O País já teve uma posição melhor nesse campo, mas, incompreensivelmente, ao invés de aumentar foi reduzindo a produção, fechando unidades produtoras e passando a depender cada vez mais de importações.
Um descuido que literalmente nos está custando muito caro, impondo dependência e controle, mantendo fora de nossas fronteiras a fatia mais gorda do lucro dessas atividades. Nada que seja novo ou que não pudesse ser previsto, recomendando, por óbvio, domínio de todas as etapas de produção, desde os insumos. Entender essa realidade e seus efeitos perversos significa olhar para trás apenas para aprender. A pergunta mais importante, diante da realidade que se constata, é o que governo e empresários pretendem fazer para incrementar a produção local, o que é perfeitamente possível, dando segurança e estabilidade aos produtores rurais, além de consistência à liderança que, nessas condições, bem pode ser ilusória.
Ouça a rádio de Minas