Opinião

EDITORIAL | Limite de resistência

EDITORIAL | Limite de resistência
Crédito: Marcos Santos/USP Imagens

Já aprovada no Congresso, a ajuda emergencial prometida à população mais carente deverá alcançar aproximadamente 70 milhões de beneficiários, a um custo estimado de R$ 44 bilhões. São as contas mais recentes discutidas em Brasília, onde se tratou também de promover arranjos nas contas públicas, ou discretíssimo ajuste fiscal, para assegurar a disponibilidade dos recursos necessários.

Tudo isso custa tempo e, trágico, custa também fome para milhares de brasileiros. De qualquer forma e para chegar aos resultados anunciados, foi preciso, mais uma vez, fazer concessões, sendo as principais delas relacionadas com os proventos dos servidores públicos, particularmente militares e policiais.

O Brasil, mais propriamente os brasileiros, carrega um Estado pesado, caro e, como se não bastasse, ineficiente, incapaz de devolver aos cidadãos, contribuintes especialmente, serviços minimamente satisfatórios. Aquela forma esdrúxula em que o indivíduo paga impostos para que seus filhos tenham educação e saúde, mas também paga, se consegue, escolas particulares e planos de saúde. E tudo isso porque o Estado brasileiro foi virtualmente sequestrado pelo corporativismo, onde não existe desemprego e os salários, para a casta dos andares mais altos, superam de longe os padrões do setor privado.

Nada a estranhar, portanto, que nos dias de hoje o sonho de milhões de brasileiros não seja mais uma vaga em escola superior mas sim a aprovação num concurso, qualquer concurso, para o serviço público, onde a garantia de estabilidade faz desse mundo à parte um lugar onde também não existe desemprego ou riscos. Não é a regra, fique bem claro, mas é um conjunto que já se revelou de peso insuportável, mas forte o suficiente, como acaba de se comprovar, para barrar qualquer investida contra seus privilégios.

E parte da tragédia brasileira, quando de um lado estamos falando de proventos que podem passar dos R$ 100 mil ao mês, engordados pelos tais “penduricalhos” que o próprio presidente da República prometeu exterminar, e de outro uma “ajuda” que não vai muito além de R$ 250. E como não deixar de lembrar – apontando o dedo acusatório –, aquele funcionário que declarou para quem quisesse ouvir não ter como viver com R$ 25 mil por mês?

O salário dele, e de tantos outros, não foi tocado, o déficit e a dívida pública aumentam além dos limites toleráveis e as áreas essenciais, como educação e saúde, continuam definhando. Já não cabe perguntar até quando, cabe indagar qual será o limite de resistência.

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