EDITORIAL | Mais fácil que parece

O País empobreceu, houve perda na produção e no consumo, consequências esperadas do desemprego, da informalidade ainda crescente e da redução na renda. São questões e desafios bem representados no aumento do contingente de brasileiros que vivem além da linha da pobreza, em que saciar a fome passa a ser a necessidade mais urgente. Triste constatar, fome num país que se gaba de ser um dos maiores produtores de alimentos no mundo. Soluções verdadeiras e definitivas estão na linha do horizonte, demandam recursos e tempo que a fome não tem como esperar. Uma constatação, mas não necessariamente uma impossibilidade se houver vontade combinada com criatividade.
Uma reflexão particularmente importante quando se sabe que os programas de doação de alimentos, preparados ou não, realizados por entidades beneméritas privadas sofreram drástica redução nos últimos meses. Uma situação que encontra explicação, de acordo com os que acompanham mais de perto a questão, na elevação de preços dos alimentos, tragicamente combinada com a redução também confirmada nas doações de recursos que mantinham os programas de pé. E tudo isso no país do desperdício, onde entre a colheita e o consumidor final pelo menos 30% da produção se perde. O mesmo acontece com os alimentos processados ou vendidos nos restaurantes, onde as perdas seriam ainda maiores.
Paradoxo dos paradoxos, um país em que grande parte da população não se alimenta dentro dos padrões mínimos necessários é o mesmo que joga comida fora, numa escala que possivelmente bastaria para alimentar – bem – todas as bocas. Pior que a falta de recursos parece ser a falta de disposição de fazer da criatividade o capital disponível nas circunstâncias. Seria perfeitamente possível reduzir as perdas brutas, na colheita, no armazenamento e no transporte; seria possível aproveitar as sobras nas centrais de abastecimento, nos supermercados e nos restaurantes. Nesses últimos, joga-se comida pronta fora porque ainda é proibido doá-la, por mais que se fale no assunto.
Claramente, nesse aspecto pelo menos, é possível mudar rapidamente, garantir alimento a todos, sem que seja preciso contar com mais recursos e sim com disposição para quebrar paradigmas, além de capacidade para enxergar o óbvio. Tudo isso e mais o compromisso verdadeiro dos agentes públicos e políticos, que precisam aprender a pensar menos em votos e mais nos seus deveres.
Ouça a rádio de Minas