EDITORIAL | Mais perto do apagão

A rigor, nesta terça-feira a sorte será lançada, com a votação, na Câmara dos Deputados, da medida provisória que autoriza a privatização da Eletrobras, matéria aprovada na quinta-feira no Senado. Foi uma vitória para o governo e as indicações são de que o mesmo acontecerá hoje.
Quem faz as contas considera a medida essencial para que, finalmente, possam ser realizados os investimentos reclamados pelo setor elétrico. Lembram, a propósito, que o setor está defasado, no limite, apontando os riscos iminentes de um grande colapso, com possível apagão inclusive, por conta da dependência de hidrelétricas cujos reservatórios estão perto do esgotamento.
Para um país que chegou a construir Itaipu, então a segunda maior hidrelétrica do mundo, a situação é no mínimo muito triste. Não exatamente pelo fato de serem empresas públicas, erguidas simplesmente porque não havia interesse do capital externo de assumir estes encargos, mas pela maneira como foram administradas.
O setor elétrico brasileiro, em cuja construção Minas Gerais teve papel decisivo, já foi modelo, além de uma das pilastras do desenvolvimento econômico que o País conheceu na segunda metade do século passado. Nada que chegue perto dos tempos que correm e, tudo indica, nada que a legislação por ser aprovada possa, efetivamente, corrigir.
O primeiro problema será verificar, adiante, se investidores externos serão atraídos pelas ofertas que, nas mãos dos deputados federais, criaram algumas exigências descabidas como o uso impositivo de termelétricas que não têm garantia de abastecimento de gás natural. Se aceitarem, e como não se cogita que possam também aceitar danos a seu capital, poderá haver disponibilidade de energia, mas a um preço que os consumidores brasileiros terão como pagar. Para resumir, a equação, principalmente depois de passar pela Câmara, não fecha, a rigor não serve a quem vende e não servirá a quem comprar.
Evidentemente resta esperar o que acontecerá hoje no Senado, mas são poucas as esperanças que os “jabutis” propostos pelos deputados possam ser enterrados, devolvendo atratividade, racionalidade e segurança ao projeto inicialmente proposto.
Tudo isso sem contar os riscos a que, potencialmente, estará a economia brasileira, aqueles mesmos que ficaram evidentes quando as concessionárias estrangeiras deixaram de investir, impondo o estrangulamento da economia do País, situação que só foi modificada, não custa recorrer à história, justamente quando o País abraçou, e de início com enorme sucesso, a tarefa de erguer o sistema elétrico.
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