Opinião

EDITORIAL | Mais seriedade sobre Amazônia

EDITORIAL | Mais seriedade sobre Amazônia
Crédito: Picasa

Nos já distantes anos 70, ainda no século passado, uma economista brasileira, então a serviço do Ministério do Planejamento, participou de uma conferência global na Europa e voltou impressionada. Já naquela ocasião discutia-se abertamente a possibilidade de internacionalização da Amazônia, considerada sua importância ambiental, assim como a diversidade e riqueza de suas reservas naturais, que seriam “patrimônio mundial”. Uma discussão aberta, sem qualquer disfarce e, muito menos, com evidências de que a qualquer título se pretendesse consultar o principal interessado. De lá para cá a situação não mudou muito e em diversos outros momentos, como agora, a questão foi levada à mesa.

E partindo de premissas falsas. Primeiro, porque ao contrário do que é dito e repetido, a Amazônia não é o pulmão do mundo, tarefa que, sabem os cientistas, é cumprida pelos oceanos. Segundo, porque o pretexto mais atual, as queimadas, é falso, no sentido de que o processo é típico e repetitivo no período da seca e está dentro da média, sem motivo para alarmes. Terceiro, porque como muito bem lembrou o presidente Bolsonaro no seu pronunciamento da última sexta-feira, a soberania da região não está em questão, ao contrário do que sugeriu o premier Macron, da França.

Esse entendimento inicial não nos impede de reconhecer que, também da parte do Brasil, a questão foi, de início, muito maltratada. No lugar de informações, de dados científicos e acreditados, preferimos, ou o presidente da República preferiu, as bravatas, num diálogo de surdos, em alguns momentos muito mal colocado. Do outro lado também não faltaram bravatas, com ameaças explicitas e nos piores tons. Felizmente a valentia durou pouco, parece. É o que se pode concluir, primeiro, da manifestação formal do presidente brasileiro, em sua fala na sexta-feira, depois das conclusões da reunião, por coincidência também na França, da reunião do G-7, representados pelos sete países mais ricos do planeta.

Para começar, e fundamentalmente, o formal reconhecimento da soberania brasileira e dos demais países amazônicos na região. Segundo e não menos importante a troca das ameaças de retaliação pela oferta de colaboração, seja no combate imediato aos focos de incêndios e queimadas, seja na formulação de propostas fundadas, de fato, no entendimento e no equilíbrio dos interesses comuns. O que começou tão mal e de uma forma em que o artificialismo e o exagero não puderam deixar de ser notados, surpreendentemente parece ter evoluído para posições mais equilibradas, livre dos exageros que davam a Amazônia como muito próxima da devastação definitiva. Cabe esperar que as boas intenções se concretizem, sem ameaças externas, com responsabilidade e senso de realidade da parte do Brasil.

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