EDITORIAL | Marcha da insensatez
O comércio mundial está mudando rapidamente e, para pior, numa marcha de insensatez cujos rumos são absolutamente imprevisíveis. É o que se pode concluir diante do anúncio da imposição de restrições, na forma de taxas adicionais de 10% sobre exportações chinesas no valor de US$ 200 bilhões. E a guerra comercial, com promessas imediatas de contra-ataque, parece mesmo não ter fim, com os Estados Unidos, depois de sobretaxar exportações chinesas no valor de US$ 50 bilhões, além de informar que está preparado para sobretaxar “imediatamente” mais US$ 267 bilhões, caso a China tome medidas retaliatórias, o que aliás também já foi prometido.
São mais sinais de instabilidade e imprevisibilidade que evidentemente afetam toda a economia no planeta, cuja recuperação, convém lembrar, está em ritmo mais lento que o esperado. Se as duas maiores economias não se entendem e se ameaçam mutuamente e se as tensões estão se acentuando, claramente os resultados não poderão ser bons. Trump, imprevisível e errático nas suas atitudes, parece estar fazendo de seu mote de campanha – America First – a essência de sua política de governo, na ilusão de que, assim agindo, defende empregos em seu país e deixando longe os conceitos mais saudáveis da globalização, que ele próprio vê como ameaça aos Estados Unidos.
Uma receita, dizem os especialistas, um tanto primária, capaz de gerar empregos num primeiro momento, como está acontecendo, mas em condições que não se sustentam. O efeito, a médio prazo, tende a ser oposto, uma vez que as sobretaxas agora anunciadas significam que, na mesma proporção, os preços subirão nos Estados Unidos que fabricam eletrônicos na China, como os famosos iphones, simplesmente porque custa mais barato.
Ruim para os Estados Unidos, ruim para a China e ruim para o restante do mundo que, seguindo os movimentos ditados a partir da Casa Branca, tende a também se fechar no protecionismo, o que implica menos negócios, custos mais elevados e, ao cabo, uma involução que definitivamente não acontece em boa hora, podendo inclusive resvalar para questões políticas igualmente muito sensíveis. Um jogo onde todos perdem e em que os prejuízos maiores acabarão no colo dos países emergentes e mais pobres.
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Nada disso pode interessar ao Brasil, que tem tirado bom partido do comércio internacional, em que alcança superávits significativos. Bons negócios e também mais dependência, situação que, nas circunstâncias, pode não ser a mais cômoda, face às possibilidades de mudanças no quadro externo. Só nos resta ficar atentos a cada um desses movimentos e a alternativas que representem o fortalecimento do mercado interno.
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