Opinião

EDITORIAL | Memória faz falta

EDITORIAL | Memória faz falta
Crédito: REUTERS/Ueslei Marcelino

Não custa muito, ou nada, puxar pela memória para lembrar a campanha presidencial de 2018, centrada na promessa de dar fim à corrupção e à impunidade na esfera pública. Discurso que de certa forma era uma espécie de rescaldo de movimentos anteriores, em que até o “mar de lama” de Getúlio Vargas chegou a ser lembrado, tudo isso por ambição e nada por virtude.

Independentemente de quaisquer julgamentos que se queira fazer, independentemente de preferências políticas que são próprias do jogo, tudo se resumia a abrir uma espécie de picada de atalho em direção à rampa do Palácio do Planalto. Deu certo no sentido de retirar do caminho o candidato que despontava como franco preferido dos eleitores, mas foi também um novo desastre, já que o resultado não deixou de ser inesperado.

Bolsonaro soube aproveitar o momento, garantia que numa eventual vitória a corrupção seria morta e sepultada e a gestão pública obedeceria aos verdadeiros padrões republicanos, sem espaço para acertos, trocas e muito menos os tais “penduricalhos” que ajudam a engordar, ao absurdo, as contas do funcionalismo.

Entre o prometido e o realizado são dispensáveis maiores comentários, desde que se tenha em conta que, tecnicamente, o atual governo deixou de operar, transferindo este papel a seus aliados do  Centrão, a base legislativa que vai repetindo as piores práticas da política brasileira, servindo-se com apetite sem limites e perdendo por completo a perspectiva do servir, o que bastaria para permitir a compreensão de tudo que se passa.

E é nesse ambiente, conforme já comentado neste espaço, que o ministro Paulo Guedes, da Economia, resolve propor que seja dada publicidade às indicações e nomeações de inspiração política, onde não faltaria nem mesmo os nomes dos padrinhos.

Uma provocação, evidentemente, no estilo nada sutil do ministro, de quem se diz em Brasília que de Posto Ipiranga e figura decorativa ele não precisou nem de quatro anos. Daí, talvez, a liberdade para mirar o alvo e atirar, bem sabendo as reações que desencadearia. Para os nossos bravos e destemidos políticos tudo não passaria de mais uma provocação, além de interferência indevida nas relações entre Executivo e Legislativo. Sobre o mérito da questão, é claro, nem uma única palavra. Nada a fazer, disse um parlamentar, já que não existe previsão legal para a implantação desse tipo de controle.

Para resumir, assusta a velocidade dos movimentos e sua repetição, encurtando cada vez mais o caminho das soluções, enquanto questões tão recendentes, que comprometem muitas dessas personagens, são esquecidas.

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