EDITORIAL | Minas busca o seu lugar

Os números relativos à economia mineira traduzem, talvez antes mesmo que o atual desequilíbrio financeiro, resultado previsível do acúmulo de déficits, uma questão estrutural que parece não estar sendo percebida, embora comparável à conclusão do economista Fernando Roquete Reis, no seu Diagnóstico da Economia Mineira.
Elaborado em meados dos anos 60, no governo de Israel Pinheiro, tais estudos foram a base para a virada que aconteceu nos anos seguintes e, na sua apresentação, Roquete Reis teria dito que pior que o diagnóstico era o prognóstico. Minas, àquelas alturas, com o declínio da agricultura e da indústria tradicionais, fenômeno acompanhado da aceleração da urbanização, estava estagnado e sem perspectivas.
Vale lembrar o antigo diagnóstico, mesmo com o óbvio entendimento de que o contexto hoje é muito diferente. Para começar, o discurso atual é medíocre, como se todos os problemas pudessem ser resumidos à redução de despesas. O equilíbrio financeiro obviamente é impositivo, a racionalidade nos gastos é fundamental, mas a recuperação só acontecerá a partir do entendimento de que o fundamental é gerar receitas. Como diz um executivo dos mais conceituados no Estado, é preciso virar a chave da crise que parece não ter fim e sermos todos, governo e iniciativa privada, mais afirmativos e mais decisivos, assumindo de fato um discurso desenvolvimentista.
Minas Gerais já foi o Estado que tinha a melhor empresa geradora e distribuidora de energia elétrica, tinha a melhor companhia telefônica, o melhor banco – hoje único no País – de Desenvolvimento e, no conjunto, a melhor e mais ativa estrutura de fomento. Não por acaso apresentava, à época, os melhores indicadores de crescimento no País. Desse esforço resultaram marcas notáveis e ainda presentes, porém incapazes de encobrir a involução que os números espelham. Recuperar a motivação e, a partir dela, o planejamento e o dinamismo, tudo isso saindo do discurso de gastos, de déficit, para entrar no discurso de receitas, via desenvolvimento.
Trata-se também de recuperar a autoestima, valorizando de fato o Estado, quem sabe aproveitando seus 300 anos para recuperar o próprio protagonismo, tendo em conta os ativos relevantes que possuímos e que são mal explorados.
Trata-se em resumo de olhar para frente, de promover os nossos ativos com criatividade e capacidade de competir. Entender as mudanças que estão acontecendo no planeta e que a pandemia acentuará e delas tirar partido, no rumo da educação, da inovação, da alta tecnologia, tudo isso bem afinado com as potencialidades locais, com a localização central do Estado em relação ao País. Trata-se simplesmente de entender, finalmente, que não nos restam alternativas a considerar.
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