EDITORIAL | Movimento fora de hora

A política brasileira, durante décadas depois da República, teve como um de seus eixos Minas Gerais, sempre em primeiro plano, quando não o centro de todo o processo juntamente com São Paulo. Desnecessário acrescentar que mudou e mudou muito, com um esvaziamento evidente da política mineira, fenômeno que não é recente, sendo possível afirmar que teve início durante a revolução de 1964. Perdendo voz, Minas Gerais perdeu também espaço, com evidentes prejuízos na alocação de recursos federais e, portanto, na economia. Para o Estado, e aí se misturam causas e consequências, recuperar sua posição e seu prestígio será preciso muito esforço, sabido que todo espaço vago é imediatamente ocupado.
Interessante notar que Minas Gerais, por sua posição meridional e por conta do processo de colonização, com gente vinda de todos os cantos à cata de riquezas minerais, se transformou também numa espécie de síntese do Brasil e é assim reconhecida a ponto de se afirmar que as eleições presidenciais são decididas aqui. Quem duvida que se recorde da votação de outubro e, durante a campanha, como o Estado foi cortejado pelos dois principais candidatos, ambos pedindo votos e fazendo promessas sem fim. Conhecidos os resultados, não há como deixar de perceber que o espaço ocupado por mineiros no novo governo é mínimo, insignificante. Para completar, nosso governador, Romeu Zema, político moderado, neste caso fez a aposta errada, cacifando o derrotado, com quem, diga-se a propósito, ele não parece ter nada em comum.
Hoje, quando menos por um pragmatismo que ficaria muito bem se apresentado como a contribuição de Minas Gerais para curar as feridas e ajudar a promover a reunificação do País, era de se esperar que ele procurasse discretamente, mineiramente, se aproximar do presidente Lula. Depois do que aconteceu no dia 8 em Brasília o movimento seria perfeito, além de coerente. Mas o governador mineiro, quebrando as melhores e mais caras tradições da política local, fez juntamente o contrário. E fez pior, entrando na fila dos que tentam transformar vítimas em culpados. Exatamente. Ele disse, com todas as letras, que os ataques de domingo atrasado em Brasília bem poderiam ser uma manobra facilitada pelo governo federal, que teria feito vistas grossas, no seu entender para que ele colhesse os dividendos da vitimização.
O pior é que tem quem acredite que teria sido um movimento estudado, destinado a projetar seu nome abrindo espaços para a próxima eleição presidencial. Enfim, nada que pareça fazer sentido, nada que lembre os momentos mais altos da política mineira. Resta apenas a conclusão de que este foi uma daquelas ocasiões sobre a qual se pode dizer que alguém perdeu excelente oportunidade de ficar calado.
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