EDITORIAL | Mudanças a considerar

Esta semana foi anunciado, simultaneamente em Moscou e Brasília, que 27 navios russos estão no mar, a caminho do Brasil, transportando uma carga de fertilizantes que seria suficiente para assegurar, sem contratempos, o início do próximo plantio. Segundo o presidente Bolsonaro, uma vitória pessoal, resultado de seu encontro com o presidente Putin às vésperas do ataque à Ucrânia. Independentemente das interpretações que possam ser dadas à decisão de Moscou, que provavelmente tem mais a ver com efeitos da diplomacia brasileira, que procura sustentar uma postura de equilíbrio e neutralidade diante dos acontecimentos, trata-se de um alívio, ainda que não de uma solução.
Com os discursos da globalização, da integração e da colaboração tão esvaziados pela realidade, sobretudo quando a expansão econômica chinesa na caminhada para posição de liderança global que não está distante, os Estados Unidos reagem e provocam, como se acordassem da ilusão de uma hegemonia eterna. Estado nesse contexto, mais diretamente, questões como o conflito na Ucrânia e ameaças nada veladas à China, indicando que a ordem global está em rápida transformação, parecendo recomendável que cada um cuide de si, procurando reduzir qualquer tipo de dependência. Pode não ser o mais conveniente do ponto de vista de alguns economistas, mas claramente é o que a prudência recomenda ou, como já se diz, a nova tendência.
Nesse contexto, e independentemente dos navios russos que navegam em direção a mares brasileiros, o mais recomendável é que o País cuide de viabilizar o aproveitamento de suas reservas de insumos que permitem a produção de fertilizantes, entendendo o elementar fato de que um país que pretende continuar sendo um dos grandes produtores mundiais de alimentos não tem mínima segurança nesta posição enquanto se mantiver na condição de importador de 70% a 80% dos fertilizantes de que necessita.
Objetivamente trata-se de colocar de pé o Plano Nacional de Fertilizantes e, especificamente, acelerar a produção local de potássio, em que a produção atual ronda 550 mil toneladas/ano para um potencial estimado em 2,9 bilhões de toneladas. Apenas uma das frentes, muito possivelmente a mais promissora, demandando decisões e soluções que absolutamente não podem ser postergadas, sob pena de um comprometimento no atendimento à demanda de alimentos que fatalmente assumiria proporções globais, mesmo que alguns países já se movimentem em busca de soluções próprias. Resumindo, enxergar e compreender o que se passa é o primeiro passo para evitar o pior, mesmo que os navios russos continuem chegando a bom porto.
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