Opinião

EDITORIAL | Mudanças e advertência

EDITORIAL | Mudanças e advertência
Crédito: REUTERS/Christian Hartmann

Termina nesta quarta-feira o reinado de Donald Trump nos Estados Unidos e, muito provavelmente, também os seus sonhos, que ultimamente soavam como mais uma, de que poderia voltar, apenas adiando por quatro anos a vitória sobre Joe Biden. Trump, que já arrumou as malas mas não resistiu à tentação de mais uma noite na Casa Branca, quebra uma tradição centenária e não transmitirá o cargo a seu sucessor, enquanto continua proclamando que não foi derrotado e sim roubado em eleições fraudulentas. É a sua versão, sem absolutamente nenhum elemento comprobatório, e contestada em dezenas de demandas judiciais, em que o candidato derrotado não conseguiu uma única vitória.

São acontecimentos perturbadores, além de preocupantes, para quem vive ou convive com o país que se apresenta como berço da democracia moderna e se considera investido do direito – que não é divino certamente – de ser uma espécie de tutor do planeta. Perturbadores também a distância e na perspectiva do que se passa no Brasil, onde o presidente da República teima em desacreditar as urnas eletrônicas, enxergou fraudes mesmo na eleição que lhe deu vitória e, pior, disse alto e bom som que se na votação de 2022 não houver voto impresso, coisa pior que a invasão do Capitólio nos Estados Unidos poderá acontecer em Brasília. Mais uma vez contraditório, entra no jogo mas não aceita suas regras, comportando-se como dono da bola.

Deixar o dito pelo não dito será um risco muito grande, sabendo-se que o sistema brasileiro é reconhecido como um dos mais eficientes e seguros do planeta, por sinal anos-luz à frente do arcaico sistema norte-americano. Por óbvio, só falta saber a quem interessa sustentar o contrário, como fez Donald Trump que, dizia-se, assim agiu com a esperança de, daqui a quatro anos, apresentar-se como vítima e não como perdedor. O enredo, nas eleições de 2022 no Brasil, pode ser o mesmo, pretexto para bravatas e tumultos, sem que nada, absolutamente nada de concreto seja apresentado pelo agora principal autor das críticas e ameaças.

O sistema brasileiro é seguro e confiável, tanto que, depois de tantos anos de uso, não houve um único sinal de que possa ter havido irregularidades. Acoplar impressoras às urnas é tese que não tem como ser posta de pé, e só pode ser vista como tentativa de tumultuar, ou criar argumentos para futuras alegações que também não se sustentarão, guardando mais que semelhanças com o que acaba de ocorrer nos Estados Unidos. Só se pode esperar que aqui também as mentiras, ou espertezas, não prosperem.

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