EDITORIAL | Mudanças em boa hora

Apesar das dificuldades, que são grandes, bem conhecidas, e tem no peso do Estado um de seus componentes mais relevantes, a administração federal optou por uma estratégia gradativa. Mudar “daqui para frente” como promete o presidente Bolsonaro, acabando por exemplo com a estabilidade para o funcionalismo a partir dos próximos concursos públicos, portanto sem tocar nos direitos daqueles que os têm presentemente.
Será este, ao que parece, o eixo da reforma administrativa, conforme o desenho da equipe do Ministério da Economia, que pretende fazer o mesmo com as tais “vantagens” que engordam salários e na mesma proporção ajudam a esvaziar os cofres públicos, além de transformar em fantasia o conceito de “teto”.
Tudo isso, claro, vale para o Executivo, mas com alguma dose de otimismo é de se esperar que as mudanças, quando efetivas, sejam também capazes de produzir algum tipo de constrangimento nos demais poderes, forçando um alinhamento. Algo que, não custa lembrar, o tamanho do déficit público impõe e recentes estudos do Banco Mundial desnudam ao revelar que no serviço público paga-se, para as mesmas funções e consequentes qualificações, o dobro do que é pago na esfera privada.
E para que tudo isso funcione o governo conta também com o tempo, que nos próximos três anos retirará da ativa, via aposentadoria, perto de duzentos mil servidores, cuja substituição se dará dentro dos novos parâmetros.
Como também disse o presidente da República, trata-se de “estancar a sangria”, o que é impositivo, e assim criar perspectivas novas. Eis porque a reforma não se limita à questão do custo trabalhista, via eliminação de algumas das distorções que foram se avolumando ao longo do tempo, num processo que já foi definido como virtual sequestro da renda pública nacional.
Cabe reconhecer que o Estado brasileiro é pesado, caro e ineficiente também por outras razoes, ou distorções, que igualmente precisam ser atacadas. Tudo isso sem que seja preciso reinventar a roda, sendo suficiente que haja racionalidade suficiente para acabar, por exemplo, com situações como a de prédios públicos onde os elevadores são automáticos, mas existem ascensoristas contratados e irremovíveis.
Qualquer gestor comprometido sabe perfeitamente, ou tem a obrigação de saber, que o País foi levado a uma situação ao mesmo tempo descabida e insustentável, além de profundamente injusta uma vez que gera privilégios que estão fora do alcance da grande maioria de trabalhadores. É disso que estamos falando e é isso que precisa acabar sem demora e sem desculpas.
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