EDITORIAL | Mudanças ou engodo?

A partir do Facebook, o norte-americano Mark Zuckerberg construiu um conglomerado de empresas que estão hoje entre as maiores e de maior faturamento no mundo. E colecionou polêmicas, com suas redes sociais, que ameaçam a vida em sociedade tal como a conhecemos, provocando reações cada vez mais fortes na Europa e começam a ganhar corpo também nos Estados Unidos.
Diante do volume e proporções das acusações, até agora as reações têm sido quase simplórias, principalmente quando o virtual monopólio diz que defende a liberdade de expressão e de opinião, enquanto abriga justamente o contrário. Na mesma linha, e repetindo a estratégia de empresas que se consideram ameaçadas, Zuckerberg tomou decisão bastante comum nessas ocasiões, anunciando a mudança de nome de seu conglomerado de empresas, rebatizado como “Meta”.
Como também costuma acontecer nessas ocasiões, marqueteiros cuidaram de enfeitar e a decisão reflete os horizontes mais largos que a empresa pretende alcançar, principalmente através de uma novidade que chama de “metaverso” e apontaria o futuro da internet. Vale lembrar que seu principal concorrente, o Google, seguiu recentemente o mesmo caminho, adotando o nome de Alfabeto Inc.
Tudo isso, muito provavelmente, uma tentativa de apagar o passado, em que pesam sobre as duas empresas acusações pesadas, de manipular e controlar informações, num monopólio incompatível com a liberdade e a democracia, agravada pelo fato de ajudar a propagar discursos de ódio, violência étnica e falta de transparência de seus algoritmos, segredo até agora muito bem guardados e que significa, na prática, controle e direcionamento da informação.
Você não vê e não lê o que quer e sim o que querem estas empresas, num processo que pode ser comparado à lavagem cerebral numa escala nunca imaginada. Sintomaticamente, países europeus reagem de forma mais contundente, anunciam que ampliarão o controle sobre as redes, enquanto os Estados Unidos ainda tentam pôr panos quentes na situação.
Mudar de nome em última análise traduz a até agora insuspeita fragilidade desses atores, cujo futuro, pelo menos na forma em que se apresentam atualmente, parece incerto, como foi o de alguns de seus antecessores que despencaram da glória que parecia eterna.
O que deveria ser esperado, muito provavelmente querendo muito, é que as redes sociais simplesmente retornassem a seus princípios iniciais, buscando aproximar pessoas e difundir conhecimentos e não mais fazer exatamente o contrário. O caminho da sobrevivência não pode se resumir a uma troca de nomes, produzindo mais ilusões que resultados.
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