Opinião

EDITORIAL | Mudar e não sair do lugar

EDITORIAL | Mudar e não sair do lugar
Crédito: Reuters/Adriano Machado

Quem circula em torno dos altos círculos do petismo percebe – e comenta – uma certa arrogância, que teria a ver com a volta por cima, mas não parece levar em conta as dificuldades que persistem. A poucos dias da posse, não nos parece algo a festejar, pelo menos não no sentido de esperar, afinal, a realização de mudanças estruturais que levem a um tipo de comportamento do qual não podem ser excluídos os verdadeiros homens de bem. Aqueles mesmos que ainda há pouco, para atacar o adversário, repetiam acusações de desvios dos quais não estão muito longe agora. Falta uma visão mais clara, falta também realismo diante do abacaxi que cairá no colo do PT no dia 1º de janeiro, e falta coerência com os compromissos tantas vezes repetidos.

O ano está terminando, sabemos, com os cofres da União raspados até o fundo e o absurdo de faltar dinheiro até para a merenda pública ou pagar bolsas ou pesquisas de estudantes de nível superior. A realidade que não há como varrer para debaixo do tapete.

Quando convém, quando é preciso atacar adversários, ela é muito bem lembrada, o que não parece ser o caso na hora de mudar. Melhor símbolo dessa realidade é a notícia de que, formado o novo governo, o País passará a contar com 37 ministérios, contra 23 anteriores, para completar com a garantia de que não haverá aumento de gastos. Definitivamente um despropósito depois dos arranjos nada ortodoxos – mas necessários no caso – para garantir a continuidade do pagamento de auxílio aos mais pobres. Criar ministérios sempre nos lembra a situação da Bolívia, que tinha, ou tem, Ministério da Marinha embora seja um Estado meridional.

O que nos falta em primeiro lugar, muito, muito antes de novos ministérios, é a clara definição da política de Estado, para onde vamos, o que queremos ser e em quanto tempo, com ações permanentes, acima de governos ou de partidos, serão afinal atingidos os objetivos fixados pela maioria. Não tem como ser diferente para o êxito, para o bom funcionamento das instituições públicas. E nunca mais a eterna repetição de erros que levam, como agora, a alianças por inteiro oportunistas e onde uma das moedas de troca – e apenas como uma espécie de sinal – vem a ser exatamente a distribuição de ministérios. Portanto, quanto mais melhor, maior possibilidade de arranjos de conveniência, mesmo que não exista, do ponto de vista da gestão pública, a menor funcionalidade nessas práticas.

Muito possivelmente teremos em Brasília, a partir de janeiro, um pouco mais de comedimento, de noção daquilo que ex-presidente José Sarney chamou de liturgia do cargo. Quanto ao resto, mais do mesmo como de longa data vem sendo.

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