EDITORIAL | Mudar sem sair do lugar

A receita da nova política, que não tem como ser dissociada da eleição do presidente Bolsonaro, definitivamente desandou e tal conclusão não tem por base exclusivamente a adesão do presidente ao Centrão. Mais constrangedora, não necessariamente para ele e sim para os que, de alguma forma, sentem o impacto desses movimentos, são as evidências de que sua proclamada disposição de fazer política sem concessões, dando cabo dos velhos costumes onde a corrupção encontra abrigo, foi esquecida, deixada de lado pela ambição, aí incluído um segundo mandato. Algo contraditório para alguém que prometeu justo o contrário e, feito presidente, em mais de uma ocasião reclamou do peso de seus encargos.
Coisas da política brasileira, já comparada nuvens que se movimentam e mudam de forma o tempo todo, diriam os mais conformados. Pode ser verdade, mas não pode ser aceito e disso acabamos de ter novo e eloquente exemplo. São as tão faladas emendas parlamentares, ardiloso mecanismo para permitir que parlamentares recebam verbas públicas, na visão mais inocente para realizar obras em seus redutos eleitorais. Tema duvidoso e nos últimos tempos aquecidos por mais uma manobra, despudoradamente denominada como “orçamento secreto”, algo como abrir mão de todo e qualquer controle sobre esta gorda fatia de recursos públicos.
Para resumir, mais um escândalo, sacramentado na semana passada pela Câmara e pelo Congresso. Assim deputados e senadores podem decidir o destino de verbas – algo perto dos R$ 32 bilhões neste ano e no próximo – sem que ninguém saiba exatamente quem recebeu, quanto recebeu e o destino preciso do dinheiro. Algo de extrema conveniência em ano de caça a alianças e votos e onde a, literalmente, moeda de troca é suficientemente conhecida. Cabe indagar, a propósito, o porquê do silêncio, se os parlamentares beneficiados deveriam ser os primeiros interessados em anunciar o patrocínio de obras em seus redutos eleitorais.
A partir dessa indagação e conhecimento de precedentes, a imaginação corre solta, confirmando que todos os limites vão sendo ultrapassados, pior, como se tudo isso fosse natural e próprio da política. Da mesma forma que nos ajuda a compreender como e por que a carga tributária brasileira, conforme anunciou estes dias o respeitado e isento Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT), já representa o equivalente a 35,31% do Produto Interno Bruto (PIB). É a conta que todos nós contribuintes estamos pagando e pela qual, compreensivelmente nas circunstâncias, recebemos pouco ou nada de volta.
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