EDITORIAL | Muito além de tapar buracos
Avaliações preliminares, apontadas pelo prefeito Alexandre Kalil, indicam que a recuperação dos estragos causados pelas chuvas dos últimos dias, considerados apenas os equipamentos urbanos, custará pelo menos R$ 300 milhões. Recursos da própria PBH, além de verbas emergenciais tanto estaduais quanto federais, serão suficientes, mas é preciso lembrar que a conta será necessariamente muito maior, considerados os danos privados, além, evidentemente, das necessidades das demais cidades atingidas pelas chuvas que, dizem os especialistas, foram as mais intensas nos cento e poucos anos em que dados a respeito são sistematicamente coletados.
Quanto à capital dos mineiros, que conheceu na noite de terça para quarta-feira, devastação de proporções tão assustadoras quanto inéditas, requer atenção mais imediata, consideradas as tempestades anteriores, que atingiram regiões mais pobres e sensíveis da cidade, o acolhimento e atendimento às vitimas e a audácia de um programa que, efetivamente, dê um fim à ocupação de áreas de risco e, simultaneamente, abrigo decente aos que deles necessitam, gente empurrada pela indiferença justamente para as áreas onde também habita o perigo constante. Muito já se discutiu a respeito e o que vimos nos últimos dias, também nos estados do Espírito Santo e Rio de Janeiro, deveria ser o bastante para despertar a consciência daqueles que tem o dever de produzir soluções.
Nada, infelizmente, que possa significar conforto imediato, mas a compreensão da verdadeira natureza dos problemas a enfrentar, que em cada uma das grandes cidades brasileiras são suficientemente conhecidos. Belo Horizonte não é exceção e está pagando o preço por fingir ignorar que não há como conter a água, impedir que ela se movimente, ilusoriamente confinadas em espaços definidos por conceitos equivocados de urbanização. Tapar os buracos, que não são poucos, refazer a pavimentação e reparar outros estragos, pode ser fácil e até rápido, garantindo, caso não ocorram imprevistos evidentemente, que a cidade recupere seu brilho até o Carnaval, conforme espera o prefeito Kalil.
É bem possível, quase certo, que este cronograma se cumpra e o Carnaval, que nos últimos anos ganhou dimensão na cidade, ocorra sem maiores atropelos. Mas permanece a ameaça e, com ela, um obrigatório e inadiável convite à reflexão que seja o fio condutor das mudanças há tanto reclamadas. A receita está pronta e é suficientemente conhecida. Falta compreender, para além dos discursos de conveniência, que é preciso colocá-la em prática, desobstruído o caminho das águas e reduzindo a impermeabilização do solo, na elementar compreensão de que não se pode contrariar a força da natureza.
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