Opinião

EDITORIAL | Muito além do absurdo

EDITORIAL | Muito além do absurdo
Crédito: Amanda Perobelli/Reuters

É fato que não se pode contestar que o programa de vacinação no Brasil não avança com a velocidade requerida ou desejável, resultado de erros e omissões, desde o negacionismo, que também explicam os avanços da pandemia no País. Um quadro que consegue ser a um só tempo muito grave e muito triste, conforme relatos que chegam à CPI que vai tentando chegar à verdade e restabelecer o foco.

Parece claro perceber que o presidente da República, figura central nesse processo, foi colocado ou, antes, se colocou em posição das mais delicadas, num processo que todos sabem como começou mas ninguém aposta como poderá acabar.

Certo é que Bolsonaro reage ao seu estilo, atacando e confrontando, alimentando sua plateia com o que tem de pior. Nas últimas semanas assistimos a uma saraivada de ameaças e declarações despropositadas, num crescendo que, com certeza, deve ser visto com preocupação. Sem aparentemente se incomodar com a contagem de mortos ou com o esgotamento do sistema hospitalar, o presidente voltou a dizer que o isolamento social é errado, uma grande perda para os que querem trabalhar, para concluir que pode assinar decreto pondo fim ao que considera abusos, ofensa à liberdade e ao direito de ir e vir.

Pouco provável que ele possa ir além de retórica sem esbarrar nos pesos e contrapesos que equilibram o sistema democrático. De quebra, contra tudo e contra todos, provocativo, voltou a defender tratamentos alternativos, aqueles que a ciência não ampara.

Literalmente atirando para todos os lados, sem que nem para que, o presidente também declarou que a pandemia pode ter sido fabricada, inventada em laboratório, como parte de uma guerra econômica cujos beneficiários seriam os autores. Confrontado e sempre no seu melhor estilo, tratou de dizer que em nenhum momento citou a China, enquanto o país por seu turno mandou dizer mais uma vez que busca construir uma relação de colaboração, porém tratando de advertir que paciência, mesmo em doses chinesas, tem limite.

Desnecessário relembrar até que ponto nos interessa manter boas relações com nosso principal parceiro comercial, sendo imperativo dar fim a provocações que são tão frequentes quanto de infantis ao tentar acordar fantasmas em que hoje poucos acreditam. Melhor, e para concluir, bastaria registrar que da China vem matéria-prima que é essencial à produção de vacinas e que absolutamente não existem fornecedores alternativos. Claro está que falta estratégia e falta propósito, a não ser que o objetivo seja justamente promover o caos para dele tirar partido.

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