Opinião

EDITORIAL | Muito além do tolerável

EDITORIAL | Muito além do tolerável
Crédito: Amanda Perobelli/Reuters

Numa de suas mais recentes lives, procedimento que ele próprio elegeu para falar com seus acólitos, mas definitivamente inapropriado para um chefe de Estado que preza sua posição e responsabilidades, o presidente da República fez mais uma revolução bombástica.

Diante da câmera e como se estivesse lendo uma publicação que não podia ser identificada, disse que autoridades britânicas alertaram, depois de estudos científicos, para os riscos de que as duas doses de vacinas contra Covid, quaisquer delas, podem contaminar os vacinados com Aids. Mentira, completa e absurda mentira, tudo tão falso quanto a publicação que o presidente exibia. Ou mais uma fake news velha e requentada.

Na Grã-Bretanha, redes sociais vinham, de fato, especulando com a matéria, sem qualquer base científica e muito menos suporte de organismos oficiais que não só cuidaram de desmentir a invencionice quanto esclareceram que os publicadores eram páginas vinculadas a movimentos contra a vacinação, muito ativos por lá. A mesma notícia, e nestes termos, foi republicada pela revista Exame, com o esclarecimento de que não há hipótese desse tipo de contaminação ser viável.

Para a ciência, algo elementar, para o presidente brasileiro, que parece incontentável na sua sandice, mais um prato cheio. Sem qualquer base para sustentar suas afirmações, muito provavelmente conhecedor da verdade, ele teria feito melhor que se tivesse levado em conta que pelo menos 20 milhões de brasileiros não compareceram para tomar a segunda dose da vacina, gente que provavelmente pode se impressionar com declarações desse tipo.

Definitivamente estamos diante de alguém com uma estranhíssima obsessão, confirmando o pensamento daqueles que enxergam nessas atitudes, por coincidência ou não no mesmo momento em comissão parlamentar apresentava seu relatório sobre seu comportamento e as políticas públicas diante da pandemia, algo patológico. Como afinal deixar de ter em conta as mais de 600 mil mortes debitadas à Covid em nosso País? Como e com que justificativa condenar a vacina, que é parte das políticas públicas e da ação do “seu” Ministério da Saúde?

Como afinal sustentar essa prioridade enviesada num país com 14 milhões de desempregados e quase outro tanto precariamente abrigado no mercado informal, como não enxergar os famintos que catam restos de comida em caminhões de lixo ou ignorar os múltiplos sinais de que a economia não reagiu como o esperado, que a inflação pode passar dos 10% ou que o crescimento econômico poderá ser negativo no próximo ano? Reagir e deter tanta insanidade tornou-se impositivo.

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