EDITORIAL | Muito dinheiro, pouco cuidado

O governo comandado pelo presidente Jair Bolsonaro comemora o início dos pagamentos por conta do Auxílio Brasil, o antigo Bolsa Família. As mudanças não foram apenas no nome. Mudaram os valores, agora R$ 600 por família, e mudou a abrangência, que alcança 56,4 milhões de brasileiros, parte das 20 milhões de famílias beneficiadas.
Todos eles, em tese, integrantes do grupo que vive abaixo da linha da miséria, gente que, quando almoça, não tem certeza se naquele dia terá também uma segunda refeição. Falta agora saber se tal alívio sensibilizará eleitores, dentro de pouco mais de um mês e, mais à frente, em 2023, como as despesas que estão sendo feitas agora serão cobertas.
Outro ponto igualmente crucial é determinar se toda a população necessitada está sendo atendida e já surgiram dúvidas a respeito. Alega-se que o processo de cadastramento não teria sido feito com os cuidados necessários, principalmente por conta da pressa em iniciar os pagamentos a tempo, na suposição dos patrocinadores do programa, evidentemente, de sensibilizar eleitores agradecidos. Este fator, além dos critérios para definir por onde passa necessariamente a tal linha de pobreza e, enquanto o Ministério da Cidadania garante que tudo foi feito “para que o Auxílio Brasil apresentasse uma resposta eficaz às necessidades dos brasileiros mais afetados pelas consequências socioeconômicas da pandemia”, há quem questione os critérios técnicos adotados, reclama da pressa e da improvisação. Para concluir que a metodologia adotada produziu “brasileiros invisíveis”, pelo menos 8 milhões deles, que acabaram fora do programa.
Gente que não recebe, gente que não deveria receber e recebe. Neste último grupo, do qual não se pode esquecer, estavam, em ocasiões anteriores, até mesmo funcionários públicos e militares, além de políticos e seus agregados, até empresários.
Como o caso só agora revelado, relativo ao auxílio emergencial pago no auge da pandemia de Covid, a 135,7 mil pessoas mortas, conforme aponta auditoria da Controladoria-Geral da União (CGU), que também informou que as irregularidades anotadas causaram à União prejuízo de R$ 336,1 milhões. Como todo esse dinheiro não pode estar nos bolsos dos destinatários, falta apurar onde, exatamente, foi parar.
Para resumir – e concluir –, caberia lembrar que tanto dinheiro movimentado às pressas e de maneira em que não é nada difícil perceber a falta de controles que poderiam ser definidos como elementares representam um convite a impropriedades. De um lado por conta de desvios, se não corrupção deslavada, de outros por listas em que entram quem pode e fica de fora quem precisa mais.
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