EDITORIAL | Mundo rico, mas faminto

No mundo desenvolvido, onde o interesse público é considerado de forma mais objetivo, o início do processo de vacinação é um alento, uma esperança de que a pandemia possa ser afinal contida e revertida. Restará então a tarefa de recuperar economias destroçadas, num processo que, para ser eficaz, necessariamente deverá ser abrangente, planetário e, sobretudo, inovador. Como já foi dito aqui, na realidade um processo de reconstrução e transformação, na compreensão de que menos desigualdades significarão mais oportunidades, principalmente para aqueles que já as têm.
São observações que nos ocorrem a propósito de notícias recentes, dando conta de que um dos efeitos mais cruéis da pandemia será o aumento da fome no planeta. Mesmo antes da chegada da Covid, o Programa Mundial de Alimentos (PMA) das Nações Unidas estimava que 135 milhões de pessoas em todo o mundo estavam a caminho da fome. Este número foi revisto, levando em conta fenômenos climáticos adversos, os distúrbios causados na produção pela pandemia e o empobrecimento da população que está na base da pirâmide de renda. Isto significa dizer, segundo a mesma fonte, que o número de famintos poderá chegar a 270 milhões de indivíduos em pouco tempo. Uma ação internacional mais rápida e comprometida, melhor cooperação em áreas como ciência e tecnologia pode ajudar a atenuar aquilo que o chefe do PMA chama de “pandemia de fome” ou de “múltiplas fomes de proporções bíblicas”.
E explica: “Alijados dos mercados e sofrendo a queda vertiginosa da demanda, agricultores enfrentam dificuldades para vender sua produção, enquanto trabalhadores informais em áreas urbanas vivem no limite da necessidade”. Assim, milhões de pessoas, do Texas a Genebra, passando por Bangcoc, são forçados a depender da distribuição de ajuda alimentar pela primeira vez. Na África Central e Oriental a situação já é de emergência. E pode piorar, por conta de que condições climáticas adversas não serão revertidas no curto prazo, o que poderá significar, este ano, aumento de 40% na comparação com 2020.
São questões interligadas, dizem estudiosos, de economia, de oferta produção e distribuição de alimentos, saúde, natureza e clima que precisam ser consideradas e tratadas com o sentido de emergência que a fome de milhões de indivíduos requer. Ficam as advertências e conclusões impositivas, cabendo esperar que elas sejam finalmente compreendidas.
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