Opinião

EDITORIAL | Munição é a mentira

EDITORIAL | Munição é a mentira
Crédito: Pixabay

Com a guerra na Ucrânia numa espécie de trágico banho-maria, os espaços mais destacados da mídia na semana ficaram por conta da compra, por Elon Musk, do Twitter, uma das controvertidas “big techs”. Pela nova aquisição o homem mais rico do mundo pagou US$ 44 bilhões, um recorde no mundo dos negócios, embora ele próprio pareça confuso quando tenta explicar o que exatamente pretende fazer com seu novo brinquedinho, dizendo que não está interessado em ganhar mais dinheiro – o Twitter teve prejuízo no ano passado – e sim garantir liberdade de expressão, o que considera uma de suas obsessões e que não estaria acontecendo com as outras redes.

Falta saber o que exatamente o bilionário entende por liberdade de expressão ou se, mais que isso, a aquisição tem a ver com a rede de satélites que ele está montando especialmente para distribuir diretamente e em todo o mundo sinal da internet, ou com a concretização definitiva de seus planos de construção de um automóvel autônomo. Enquanto correm as especulações, fica o concreto que ao contrário do que ele quer fazer crer é o controle da informação num nível absoluto e em que o conceito de liberdade de expressão está sendo subvertido perigosamente.

Esclarecer este ponto é a tarefa mais urgente e nela já trabalham, mesmo antes da novidade da semana, governos da América do Norte e da Europa, enquanto no Brasil, espertamente e como de costume, parlamentares trabalham duramente na direção contrária. Seu objetivo declarado é evitar que qualquer controle mais efetivo seja acionado antes das eleições. Não é sequer necessário indagar o porquê desse desejo. Enquanto deste lado do mundo as coisas se passam dessa maneira, na banda dos países plenamente desenvolvidos o perigo já foi enxergado e a ideia explicitada é impedir que estes serviços prossigam sem lei e sem ordem, cada vez mais perto de se transformarem num poder paralelo. Se não, o poder real.

Definitivamente não é pouca coisa e o Brasil não pode permanecer na letargia atual, simplesmente para que os donos do poder, fabricantes de fake news em escala industrial, continuem fazendo desse expediente sua principal arma. Quando nada, principalmente porque são os mesmos que tanto falam em liberdade de expressão e em independência, pelo entendimento que estas máquinas são controladas de fora, a serviço de interesses que por definição não são exatamente os nossos.

Tudo isso para fazer ver que liberdade de expressão e de opinião, se verdadeiros, absolutamente legítimos, nada tem que ver, muito pelo contrário, com o jogo jogado, numa guerra em que a munição é a mentira.

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