EDITORIAL | Na Europa, tiro certeiro

Legislativo e Judiciário se ocupam do assunto, prometem que irão às últimas consequências, mas, forçoso reconhecer, são lentos na visão de quem tem em conta a gravidade do assunto, por isso mesmo uma das fontes de atritos com o Executivo.
Estamos falando das fake news e mais amplamente da utilização das redes sociais para replicá-las com objetivos impertinentes, fenômeno que nos alcança e é também objeto de preocupação mundo afora.
Como já foi dito em mais de uma ocasião, a tecnologia, que tem um tremendo potencial agregador e de difusão da cultura, foi apropriada para cumprir função oposta, apartando e não aproximando, fazendo da mentira ferramenta política largamente utilizada, a um ponto em que não será exagerada a afirmação de que já compromete o processo eleitoral e, consequentemente, a própria democracia, transformando cidadãos – eleitores – nas maiores vítimas dos robôs, comprovadamente utilizados para distorcer a realidade em proveito de grupos que permanecem nas trevas.
Em última análise este é o escopo das investigações ordenadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e dos trabalhos da Comissão Parlamentar de Inquérito em andamento.
Não será também exagerado afirmar que as próprias reações a este trabalho, mesmo que supostamente induzidas e tendo como óbvio pano de fundo tentativas de desacreditar tanto o Supremo quanto o Congresso são o melhor indicativo de sua relevância e oportunidade.
E disso nos fala a vice-presidente de Valores e Transparência da Comissão Europeia, que, ao destacar as preocupações no Velho Continente com o assunto, afirmou estar demonstrado que a desinformação não prejudica apenas a saúde de nossas democracias, mas a de nossos cidadãos, numa referência à disseminação de informações falsas sobre a pandemia.
A Comissão Europeia, depois de referências explícitas a tentativas de agentes estrangeiros não nominados de “influenciar a Europa”, antecipou que o próximo alvo serão campanhas de vacinação, lembrando que na Alemanha a disposição de cidadãos locais de serem vacinados caiu 20%, fato atribuído justamente à divulgação de informações inverídicas.
Tudo isso levou os europeus a pressionarem as plataformas eletrônicas, exigindo-lhes um tratamento mais responsável da questão, sem se escudarem na falsa defesa da liberdade de expressão. E assim será, por enquanto na Europa pelo menos, como resultado de acordos com o Facebook, Google, Twitter e Mozilla.
A rigor, não existe outra fórmula eficaz, razão porque é de todo aconselhável que o que se passa na Europa seja o parâmetro para uma atitude nova, mais rigorosa e mais responsável, na defesa de valores que não podem ser postos a perder.
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