Opinião

EDITORIAL | Na política, só mais do mesmo

A eleição indireta do então governador Tancredo Neves à Presidência da República marcou o fim do regime militar no País. Deveria ser um recomeço que acabou atropelado pela morte do eleito e a posse, controversa, de José Sarney, vice de Tancredo e um dos líderes políticos no antigo regime. A transição deu-se de forma pacífica, muito mais por esgotamento que qualquer outra causa. E deveria ser também um recomeço, uma “nova república” que, além de formalmente consolidar a democracia no País, renovaria os fundamentos de uma sociedade mais equilibrada e próspera, erguida a partir de reformas que nunca chegaram a acontecer.

Tanto é verdade que hoje, na campanha para as eleições presidenciais de outubro, os principais candidatos, assim considerados aqueles que pesquisas de opinião apontam como mais fortes, colocam justamente as reformas – política, do Estado, da Previdência, etc. – como duas prioridades ou ponto de partida para as ações que recolocarão o País nos trilhos. Um deles já disse e repetiu que aproveitará o momento de força subsequente à posse, para agir. Não por coincidência, a mesma estratégia que o então candidato Fernando Henrique Cardoso prometia utilizar na campanha de 1994, exibindo os cinco dedos da mão direita para apontar cada uma das reformas que realizaria imediatamente depois de posse.

Lula, adiante, fez basicamente a mesma promessa e aquilo que os dois deixaram de fazer explica o que se passa hoje em nosso País. As reformas, principalmente a política, continuam sendo postergadas, mantido assim o arranjo que favorece os políticos, prejudica o conjunto da população e, inclusive, frustra os que esperavam como resultado das eleições de outubro uma grande renovação. Dados do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap) apontam o contrário e fazem crer que dos 79,33% dos deputados federais que concorrerão à reeleição, 407 dos 513, cerca de 75% continuarão mantendo suas cadeiras. Muito provavelmente será o menor índice de renovação desde as eleições de 1990.

É de se perguntar onde andarão – e em quem votarão – aqueles que foram às ruas para exibir sua indignação com a corrupção e com a coleção de práticas lesivas à gestão pública no País. A máquina funcionou, o que parecia virtude era apenas ambição, as reformas destinadas a assegurar a governabilidade sem a necessidade de arranjos que se dão num plano que não tem nada de republicano empacaram mais uma vez, e fica tudo como está e sempre esteve. O passo mais ousado, com o cinismo atroz, foi mudar os nomes de alguns partidos, criando para os absolutamente desinformados alguma sensação de novidade. A malandragem venceu a esperança.

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