EDITORIAL | Não dá para pagar a conta

A administração pública e o Congresso Nacional continuam, pelo menos da boca para fora, tentando construir um milagre. Trata-se de reequilibrar as contas nacionais, realizando o sempre adiado ajuste fiscal, porém sem revelar qualquer disposição de atacar, efetivamente, as suas causas.
Para não falar na rolagem da dívida pública, a maior de todas as contas, merecedora, portanto, de um reexame que não acontece, fica a segunda fonte de despesas – e de problemas – as com o pagamento de funcionários ativos e inativos. Todos fingem que estão trabalhando sério, uma tese desmontada quando se constata que mesmo as mudanças que ainda não são definitivas só valerão para novos servidores, enquanto as castas que se alojam no topo da pirâmide estão por enquanto a salvo de qualquer risco.
As ações necessárias evidentemente encontram-se muito longe desse magro cardápio, que ainda assim não avança. Também não é levado em conta que estamos falando de 11,4 milhões de pessoas, número total de servidores públicos distribuídos entre União, estados e municípios. São números de 2017, os mais recentes disponíveis, coletados pelo Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea) apontando que 6,5 milhões são servidores municipais, 3,6 milhões são estaduais e 1,3 milhão federais.
Considerando o conjunto da população, é absolutamente despropositado que esta pequena minoria consuma fatia tão gorda do orçamento público. E pior ainda saber que entre os anos de 2004 e 2018 servidores estaduais tiveram aumento real acima da inflação, de 80%, enquanto nos municípios, entre 2006 e 2017 o aumento de despesas apenas com servidores ativos chegou aos 78%. E tem mais, muito mais: em doze anos a folha de pagamentos do governo federal aumentou 145%, muito mais que a inflação do período, mais que o crescimento da arrecadação e do Produto Interno Bruto (PIB).
Considerados estes valores, a impressão que fica, na realidade uma quase certeza, é que políticos e gestores públicos até agora não fizeram mais que brincar com o assunto, sem a mínima consistência nas suas abordagens. Eles devem saber muito bem que não têm como resolver o problema, porque isso implica em desalojar as corporações que tomaram conta do Estado brasileiro e de seus recursos.
Assim, apenas empurram com a barriga, vão levando, fingem que estão discutindo propostas sérias e que contêm as respostas requeridas, enquanto na realidade andam em círculos, exatamente como fizeram seus antecessores. E com o mais completo despudor, cuidam de garantir os privilégios dos intocáveis, que por sua vez garantem, por puro instinto de preservação, os benefícios mais magros, reservados ao andar de baixo.
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