EDITORIAL | Não dá tempo de errar o alvo

No campo da economia, o cenário para o ano que está começando não parece favorável, consideradas as expectativas da Pesquisa Focus, realizada mensalmente pelo Banco Central e envolvendo os principais agentes econômicos. Resumidamente, crescimento de menos de meio ponto (0,36%) do Produto Interno Bruto, taxa básica de juros batendo nos 11,5%, dólar estável, podendo chegar a dezembro cotado a R$ 5,60 e inflação acumulada nos próximos doze meses em torno de 5%, ou metade do índice corrente. Resumindo, a reação esperada para o ano passado também não acontecerá em 2022, fazendo crescer o passivo real e virtual que o País vai acumulando. E que fórmula mágica, afinal, seria capaz de produzir resultados diferentes com os juros voltando a um patamar que representará o dobro da inflação e sem que se possa perceber qualquer pressão de demanda?
O cenário de restrições imaginado se agrava com o fato de que o período estudado coincide com a realização de eleições gerais, em que além do presidente da República serão escolhidos novos governadores, além de deputados federais, estaduais e senadores. Para os que estão neste barco ou nele pretendam entrar não sobrará tempo se não para caçar votos, em muitos casos independentemente do preço a ser pago por eles. Assim, e como já vem acontecendo, os gestos mais marcantes serão os da conveniência, ficando o enfrentamento dos temas e das condições que levam a resultados tão medíocres mais uma vez adiados. Isso, claro, raciocinando até com certo otimismo já que não se pode considerar as consequências da polarização que tende a crescer.
Para os brasileiros capazes de enxergar a realidade, o quadro deveria bastar para mudar sua atitude, escapando da armadilha de escolher entre A e B, enxergando em um ou outro o salvador e dessa forma desconsiderando a importância dos votos que darão a deputados e senadores. Afinal, bastaria lembrar os nomes, que não são poucos, de políticos que preencheram espaços em cada um dos governos desde a redemocratização, mudando de campo sem mudar de cara, para que seja entendida a verdadeira natureza e fonte do poder no Brasil, bem como suas consequências. Para eles, vitoriosos sempre, poderia ser dito que sabem se adaptar para não mudar, para não perder suas benesses.
Tem sido assim, não é de hoje e não será diferente até que a maioria dos brasileiros finalmente compreenda que devem mirar sua atenção, e o poder de seu voto, não nas figuras de salvadores da pátria, mas sim na construção de um corpo legislativo à altura da mais importante das missões.
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