EDITORIAL | Nas mãos do eleitor

A campanha eleitoral que, como dissemos em comentário anterior, nunca parou, ocupará por inteiro os próximos dois meses e com tensões cuja dimensão não pode ainda ser dimensionada. Certa é a virtual paralisação da gestão pública, nos seus três níveis. Realizada a votação e contados os votos, conhecidos os resultados, as atenções estarão voltadas por inteiro para os próximos mandatos, independentemente do tamanho das mudanças que possam ocorrer. Dito de outra forma, a esfera pública estará e permanecerá paralisada naquilo que mais interessa por conta de questões que requerem atenção e muita urgência.
Com o País empobrecido, inflação e juros em alta, economia rondando a estagnação, além de uma conjuntura externa tão delicada quanto imprevisível, continuarão faltando articulações essenciais, por ironia algumas delas contidas no programa, ou nas promessas, melhor dizendo, do governo que, mesmo se assim desejasse, já não tem tempo para agir. Tratava-se de destravar os gargalos que emperram a economia, bem conhecidos e embrulhados num programa de mudanças que teria como ponto de partida a reforma tributária, conclusão e consolidação da reforma trabalhista. Além de mudanças substantivas também no campo político, com alívio no peso que o Estado carrega e transfere aos contribuintes, sugando recursos que faltam na conta dos investimentos, da atratividade e da competitividade que o Brasil poderia exibir.
Questões antigas, conhecidas, amplamente discutidas e sobre as quais ninguém diz ser contra, embora prossigam obstadas pelos interesses políticos fatalmente contrariados. Quem lembra, hoje, o volume dos protestos contra a corrupção no espaço público, pelo fim da impunidade e do Estado pesado, caro e ineficiente, gerando o tal “custo Brasil” do qual não mais se fala? São maus resultados e frustrações acumuladas, com o apêndice cruel, inaceitável, da miséria da qual milhões de brasileiros não conseguem escapar, não sabendo se amanhã terão como se alimentar.
Uma tragédia que se revela ainda pior exatamente diante da indiferença, do imobilismo ou conivência dos agentes políticos que por obrigação deveriam estar na linha de frente deste combate. Temos assim causa e consequência da omissão dos que se movem exclusivamente pela ambição, não fazendo mais que procurar saciar seu próprio apetite sem enxergar o que está à sua volta. Nesse caminho tão estreito cabe esperar, sonhando, que os eleitores finalmente ditem o rumo, entendendo verdadeiramente a importância de seu papel e o poder que ele encerra.
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