Opinião

EDITORIAL | No fundo do poço

EDITORIAL | No fundo do poço
Crédito: REUTERS/Paulo Whitaker

É fato objetivo e inconteste, embora não sejam poucos os que gostam de ressaltar “que elas estão funcionando”, que as instituições políticas brasileiras, assim como a própria democracia, estão ainda distantes do necessário amadurecimento. Fosse diferente e diferente também seria a realidade atual, principalmente no tocante à inconsequência e omissões que ajudam a explicar a devastação que sofremos em virtude da pandemia.

Da mesma forma, os múltiplos problemas decorrentes de uma gestão pública de má qualidade, associada à falta de um projeto para o Brasil, ajudam a explicar a literal falta de rumos, com reflexos perversos na economia, principalmente para os mais carentes.

Não cabem dúvidas que poderia ser muito diferente se não estivéssemos, mais uma vez, diante de consequências insondáveis, por conta da decisão do ministro Edson Fachin, do STF, de considerar nulas todas as decisões da 13ª Vara Federal de Curitiba com relação ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Extintos os processos, que na sequência serão reexaminados em Brasília, Lula não foi absolvido, mas recupera seus direitos políticos até que venha nova decisão.

Muito se tem especulado, desde a tarde de segunda-feira, sobre as causas e consequências dos novos acontecimentos, mais uma vez desviando o foco da pandemia, do virtual colapso do sistema de saúde, das mortes contadas aos milhares e das vacinas que não chegam.

Mas para os políticos as preocupações são outras, tem mais a ver com as eleições do próximo ano, da mesma forma que a condenação e prisão de Lula foi antes de tudo um pretexto para removê-lo da corrida presidencial de 2018, muito embora por ironia os verdadeiros autores da manobra dela não tenham se beneficiado como pretendido. Faltaram virtudes e sobraram ambições, enquanto a manipulação da opinião pública fazia crer que estávamos todos imersos numa cruzada contra a corrupção.

Não nos parece que o mais importante agora seja apurar quem fez o que, quem tem mais ou menos culpa. Preferimos indagar quanto teria custado, nestes últimos quatro ou cinco anos, em termos humanos e em termos materiais, este ciclo de desatinada irresponsabilidade.

Quantos empregos foram perdidos, quantas empresas desapareceram, quanto conhecimento e quanta energia foram desperdiçados, empobrecendo o Brasil e os brasileiros. Quantas esperanças se perderam, tudo isso para servir a poucos, tão poucos, o que poderia não ter acontecido se o ministro Fachin não tivesse levado quatro anos para concluir que, para o juiz, “tão importante quanto ser imparcial é ser apartidário”. 

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