EDITORIAL | No limite do absurdo

Chamou menos atenção do que deveria, ou seria de se esperar, a carta aberta assinada por pesquisadores, especialistas e executivos do setor de tecnologia sugerindo que empresas que atuam na área interrompam temporariamente seus trabalhos na área de desenvolvimento de ferramentas que utilizam a chamada inteligência artificial. Os signatários do documento, entre os quais aparecem o empresário Elon Musk, o maior deles, apontam que pode estar ocorrendo o que chamam de “corrida perigosa” que precisa ser detida e sugerem que sejam criados protocolos de segurança visando proteção do sistema político, da democracia e – atenção – da própria humanidade. O Future of Life Institute, que coordenou o movimento, sustenta que “nos últimos meses vimos os laboratórios de inteligência artificial em uma corrida fora de controle para desenvolver a aprimorar mentes digitais que ninguém – nem seus próprios criadores – consegue entender, prever ou controlar de forma confiável… com riscos à sociedade e à humanidade”.
Definitivamente não estamos diante de pouca coisa, sendo de se esperar que o alerta não fique restrito a seus autores e, bem ao contrário, que represente o ponto de partida para reflexões sobre essa corrida que, de fato, parece ensandecida, tanto que ninguém é capaz de dizer onde exatamente está a linha de chegada. Considerados os precedentes com relação aos avanços tecnológicos das últimas décadas e os desvios que ocorrem na sua aplicação, a pausa sugerida é mais que recomendável. Na realidade impositiva para que o tema seja mais bem conhecido e avaliado, possibilitando a definição de limites de segurança. Conhecido o potencial dessas novas tecnologias, consequentemente seus riscos, que chegam a ser apontados como “ameaça existencial”, não se admite que inexistam instrumentos para mitigá-los, disse um dos signatários do documento, acrescentando ser “hora de colocar as prioridades comerciais de lado”, de tal forma que ele possa ser ajustado “para o benefício claro de todos e dar à sociedade uma chance de se adaptar”.
Passadas quase duas semanas desde que a carta aberta se tornou pública, espanta que as repercussões tenham sido tímidas no que toca ao conjunto da sociedade e, da mesma forma, que autoridades a rigor não tenham se manifestado a respeito, numa resposta clara e objetiva ao que está colocado. Silenciar, fingir que não viram, mesmo que existam tanto nos Estados Unidos, Canadá e Europa discussões em outro nível sobre a mesma questão, é atitude que ajuda a alimentar um vazio igualmente bastante perigoso, sobretudo porque de alguma forma será ocupado.
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