Opinião

EDITORIAL | O abismo mais perto

EDITORIAL | O abismo mais perto
Crédito: Freepik

Entre a primeira e segunda grande guerra, intervalo entre 1918 e 1939, o poder global prosseguiu centrado na Inglaterra, enquanto a Alemanha se reerguia militar e economicamente aos olhos do mundo, que se manteve indiferente, enquanto as grandes potências, aí já incluído os Estados Unidos, não procuravam disfarçar que o verdadeiro inimigo era a União Soviética. E o desequilíbrio se deu basicamente porque a Alemanha se viu isolada, descartadas as chances de aliança com os Estados Unidos, em detrimento da Inglaterra. Em cada um desses países, e em outros da Europa, o nazismo tinha expressão, era força política relevante.

A Segunda Guerra foi, na realidade, a precipitação dos acontecimentos, na medida em que a Alemanha não enxergou outra maneira de alargar seu espaço e ambições. Nos anos seguintes, e à medida que o conflito foi ganhando proporções, parecendo impossível barrar o avanço germânico, que só foi contido quando suas forças pareciam próximas de ocupar Moscou. Do ponto de vista histórico e da objetividade, foi aí que a situação se inverteu, dando margem a uma aliança de conveniência, com a guerra dividida em duas frentes, até a entrada triunfal – dos russos – em Berlim.

Terminada a guerra, houve tempo e condições para o ressurgir da velha rivalidade, historicamente ancorada no temor da nobreza europeia de que a Revolução Russa de 1917 fosse como que a repetição da Revolução Francesa de 1789. Muito provavelmente não será exagerado afirmar que todos os movimentos seguintes, até o presente, obedeceram a esta lógica, alimentado por um processo de propaganda como jamais houve igual, mesmo depois da queda do Muro de Berlim e do colapso da União Soviética, que muitos entenderam, equivocadamente, como o fim da Guerra Fria e das tensões que poderiam levar a um conflito nuclear, sem volta e sem vencedores.

Nesse contexto, chama atenção que o presidente Biden, dos Estados Unidos, tenha dito que não poderia admitir o crescimento econômico da China, a ponto de tomar o lugar de seu país. Para compreender o contexto, é preciso entender como as duas superpotências dividiram, com solenes acordos, seus espaços efetivos ou de influência e assim compreender o que se passa presentemente, agora com o risco, para além da Ucrânia, que as forças da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) cheguem às fronteiras russas, pela Finlândia e Suécia, numa extensão de mais de mil quilômetros.

O precário equilíbrio mantido por mais de 70 anos nunca esteve tão próximo de ser rompido, situação em que não parece haver espaço para vencidos e vencedores. Perderemos todos, e definitivamente, se as provocações não cessarem, abrindo espaço para o bom senso ou, precisamente, para o sentido de sobrevivência.

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