EDITORIAL | O futuro nos trilhos

Já foi dito e repetido que, em um País de dimensões continentais, não faz o menor sentido que a movimentação de cargas seja feita principalmente por caminhões. Igualmente já foi dito e repetido que o desmonte da malha ferroviária – no passado base da infraestrutura de transportes – foi provavelmente o mais contundente sinal de até que ponto a administração pública pode ser esbanjadora e imprevidente. Ou, simplesmente, incompetente. Pensar no futuro, imaginar que o País tem como alcançar condições de competir e participar do mundo desenvolvido, tem como um dos pressupostos o reconhecimento de que a movimentação de cargas necessariamente deverá ter como suporte um sistema integrado, capaz de tirar o melhor partido de cada um dos modais – ferrovia, rodovia, navegação interna e navegação de cabotagem.
Algo a ser lembrado e repetido até que a realidade seja efetivamente modificada, até que um dos itens críticos da composição do custo Brasil seja, afinal, eliminado. E no entendimento de que não dá para entender como aceitável que o transporte de uma carga de soja entre o Mato Grosso e o porto de embarque no Paraná possa custar mais caro do que o percurso entre o porto e o desembarque na China, do outro lado do mundo. Aprender, remover barreiras e reduzir custos é ou deveria ser, afinal, um exercício permanente tanto quanto constante.
E cada pequeno passo nessa direção pode e faz enorme diferença. Caso do recente anúncio de que a Ferrovia Bahia-Minas depois de permanecer inoperante e abandonada durante longos 57 anos será recuperada e reativada, fazendo ligação entre Caravelas, no Sul da Bahia, e Araçuaí, no Vale do Jequitinhonha, em um percurso de aproximadamente 500 quilômetros. Segundo a concessionária, que estima em R$ 8 bilhões os investimentos a serem realizados, a ferrovia poderá movimentar cargas e transportar passageiros, além de estar conectada com estrutura portuária e aeroportuária em Caravelas. Previsões recentes indicam que, vencida a etapa de licenciamento ambiental, as obras poderão ter início dentro de dois anos.
Para um País que tanto depende das rodovias mas reconhece que menos de 40% delas oferecem boas condições operacionais, o futuro recomenda ou exige que o exemplo da recuperação da Ferrovia Bahia-Minas passe a ser uma nova referência.
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