[EDITORIAL] O futuro que está chegando
Em pouco mais de duas semanas, duas das grandes montadoras de veículos instaladas no País, General Motors e Ford, anunciaram a disposição de reduzir drasticamente suas operações no Brasil. A GMB, quase centenária, foi mais longe em comunicado oficial – que aparentemente “vazou” – mencionando resultados insatisfatórios e contínuos, argumento suficiente para sustentar a hipótese de encerramento de seus negócios no País.
Poderia ser também, simplesmente, um jogo de ameaças, bem próximo da chantagem, visando simplesmente obter novos e maiores favores do governo local. Sustenta-se, em defesa desse raciocínio, o fato de que o mercado brasileiro, mesmo estando num momento ainda de baixa – mas já de recuperação – é um dos que apresenta, ao lado da China, maior potencial de crescimento no mundo e que a escala de investimentos no setor recomenda sempre uma visão de longo prazo.
Este raciocínio poderia conduzir a uma segunda pista, mais interessante e mais consistente para compreensão do que se passa. A indústria automotiva no mundo está ingressando no período de inovações e renovação sem precedentes. Os motores a combustão, com a mesma idade da indústria, são, além de ineficientes, poluentes e o aumento constante da frota sugere uma situação que em pouco tempo mais será insustentável. Daí porque os principais fabricantes já trabalham com um prazo entre dez e quinze anos, para total substituição do petróleo, a ser substituído por fontes mais limpas e eficientes, como a eletricidade e o hidrogênio. Esta é uma parte das mudanças, existem outras talvez ainda maiores. Por exemplo, os carros autônomos, suportados pelas maravilhas da informática e alterações até no conceito de utilização de veículos leves, em que a propriedade e uso exclusivos deixariam de fazer sentido.
Tanto quanto se pode prever o futuro, o caminho da indústria de transportes segue nessa direção, implicando em mudanças drásticas também na estrutura e organização dos fabricantes, com mais espaço para fusões, desenvolvimento e produção conjuntas, etc. Esta pode ser a verdadeira natureza dos movimentos da GM e da Ford no Brasil, que estariam sendo planejados no contexto de mudanças globais, de construção de uma nova indústria automotiva para os novos tempos que estão chegando. Como já foi dito neste espaço, o Brasil, que figura hoje entre os maiores fabricantes mundiais de autoveículos, deve ficar muito atento ao que se passa, não pode perder seu lugar nessa corrida e que o êxito parece proporcional à capacidade de antecipar o futuro.
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