EDITORIAL | O que falta é bom senso

É costume na administração pública brasileira, quando é de conveniência evidentemente, afirmar que o Tesouro está vazio, que não existem recursos até mesmo para gastos essenciais nas áreas de saúde, educação ou manutenção e conservação de equipamentos como vias urbanas e rodoviárias.
Discurso padrão e antigo, que nós mesmos, mineiros, ouvimos diante de projetos ou obras que não raro se arrastam por décadas a fio, sempre pela alegada razão. Nesse rol permaneceu e permanece o Anel Rodoviário de Belo Horizonte, ainda há pouco palco de dois graves acidentes, que tem resistido bravamente a promessas de duplicação, de correção dos trechos mais críticos ou de simples manutenção.
Na realidade passou tanto tempo que o Anel, que continua pela metade, que os melhoramentos tão reclamados até certo ponto perderam sentido. O crescimento da região metropolitana e, consequentemente, as necessidades de mobilidade cresceram tanto que mais lógico passou a ser a construção de uma nova via, agora batizada como Rodoanel, assunto que vem sendo discutido faz tempo, embora quase que como um sonho, porque na realidade ninguém saberia dizer de onde tirar dinheiro para concretizá-lo. Eis que literalmente cai do céu gorda indenização da mineradora Vale, por conta do rompimento de uma de suas barragens em Brumadinho. Dinheiro suficiente, com sobras, para tocar a obra, com ajuda de sócios privados.
Quem pensar que o problema finalmente está resolvido cometerá um grande engano. Depois de longos estudos, ao que tem sido dito com participação das administrações municipais envolvidas e do Legislativo, foi afinal definido um traçado, ainda assim provisório e destinado a balizar o projeto final. Não a solução e sim um problema a mais, culminando com repercussões na Assembleia Legislativa e, afinal, judicialização com ativa participação de Betim e Contagem, afora Belo Horizonte os dois mais importantes municípios da região metropolitana, que consideraram o traçado proposto prejudicial às duas cidades, sugerindo alternativa que seria, dizem, de percurso pouco maior, porém dependente de desapropriações mais baratas.
Parece ser um daqueles casos em que se pode dizer “que vença o melhor” para o interesse público e que esse seja efetivamente o objetivo perseguido por todas as partes. Só não se pode admitir é que a pendenga se arraste por tempo indefinido enquanto o Anel Rodoviário continua sendo, além de inadequado para suas funções, palco de constantes e graves acidentes, com índices de fatalidade de todo inaceitável. Tudo isso e sem que os responsáveis possam, no caso, repetir a velha arenga da que falta dinheiro.
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