Opinião

EDITORIAL | O que falta é enxergar

EDITORIAL | O que falta é enxergar
21 milhões de patrícios padecem as agruras de severa insegurança alimentar | Crédito: Adobe Stock

Aqueles brasileiros que de lá nunca saíram mais os milhões que foram jogados de volta para abaixo da linha da pobreza integram também uma legião de famintos. São pessoas, milhões delas, que não conseguem fazer as três refeições diárias, que sequer sabem se terão o que comer no dia, são portanto subnutridos e doentes. O País de tantos famintos é também, para nossa vergonha ainda maior, um dos maiores produtores de alimentos do planeta e campeão de exportações, figurando nos primeiros lugares entre os que exibem maiores níveis de desperdício, que começa na colheita, passa pelo transporte e armazenamento, chega às gôndolas dos supermercados e vai terminar nas mesas daquela parcela que ainda tem acesso, regularmente, a um prato.

As estimativas, que ao que tudo faz crer não são completas, indicam que pelo menos entre 30% e 40% de tudo que é produzido se perde, o suficiente para que não houvesse fome. Como os famintos não podem esperar é racional imaginar que reduzir o desperdício seria o primeiro ponto a ser atacado. Nesse sentido, um bom exemplo foi dado recentemente com a autorização, dentro de normas adequadas, evidentemente, das sobras e descartes em centrais de distribuição, varejo e restaurantes. De pronto, pode e fará diferença para muita gente.

Lembrar este ponto nos leva a perceber a questão de maneira mais abrangente, que diz respeito à maneira como o lixo é produzido e tratado, com a reciclagem não chegando a 5%. Também aqui estamos falando de desperdício, questão relevante no contexto atual e, muito provavelmente, será crucial num futuro que não está distante. Apenas na cidade de São Paulo, a maior do País, estima-se que a falta de reciclagem implica num prejuízo de R$ 14 bilhões/ano com o descarte dos grandes volumes de lixo produzidos diariamente. As contas são de que aproximadamente 50% do lixo que chega aos lixões poderiam ser reciclados, o que não acontece por falta de separação adequada e individual, além de coleta seletiva. Vale para São Paulo, deve valer para o resto do Brasil, provavelmente em condições ainda piores.

É de se indagar como pode ser assim num país que é também capaz de reciclar quase a totalidade de latas de alumínio produzidas, números que são os melhores do mundo. Este êxito, que também significa trabalho e renda para milhares, talvez milhões, de pessoas, nos indica que é possível fazer diferente, transformando problemas em soluções.

Tudo isso com implicações humanas que são as mais relevantes, com possíveis ganhos econômicos diretos e fartos, ganhos ambientais e solução para problemas sanitários urbanos também relevantes. Só falta enxergar.

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