EDITORIAL | O que falta é vontade

A elevação dos preços dos derivados de petróleo, em proporções absurdas e evidentemente inoportunas, e que chegou aos 25% sobre os já elevados preços anteriores, absolutamente não tem a explicação que tentam apresentar, diga-se de passagem com grande esforço de parte ponderável da mídia.
É sabido que a guerra entre Rússia e Ucrânia, que tem motivações que vão muito além daquelas apresentadas sempre unilateralmente, provocou, como é típico dessas situações, reações imediatas nos preços do petróleo e outras commodities, algo que não necessariamente deveria se refletir no Brasil na forma apontada.
Há pouco lembramos, neste espaço, que o Brasil se transformou num grande exportador de óleo cru, com vendas que no ano passado ficaram na média de pouco mais de 1,3 milhão de barris/dia. Definitivamente não é pouca coisa, assim como são dignos de notar os ganhos da Petrobras neste contexto. Embora exista a respeito uma espécie de caixa preta, um dos segredos mais bem guardados, na média cada barril de petróleo, hoje comercializado por mais de US$ 100, custa à estatal cerca de US$ 15. Daí os lucros astronômicos que fazem a alegria de investidores e especuladores.
É elementar, e a situação atual comprova o que estamos afirmando, que não é, nunca foi, a razão de ser da Petrobras. Para quem teimosamente ainda pensa o contrário é só lembrar a crise dos anos 70, os esforços, os investimentos, inclusive em desenvolvimento de tecnologia que deram ao País autossuficiência e reservas que se contam entre as maiores do mundo. Uma questão estratégica, de independência econômica do País, nunca de mercado, como pensam aqueles que enxergam na Petrobras um estorvo a ser eliminado mesmo que a preço de liquidação. Sigam o dinheiro, verifiquem quem ganha e quem perde e o resto será compreendido facilmente.
Hoje, e porque cometeu o grave erro de negligenciar investimentos em refino, o Brasil, embora autossuficiente, importa refinados. Ainda assim mais uma vez é só fazer as contas, verificar volumes que entram e que saem, para concluir que nos sobra muito dinheiro e não há por que mandar essa conta para os consumidores, sabendo-se que estes custos se refletem em todos os setores da economia, nos preços em geral e nos bolsos dos consumidores. O presidente da República, que mais de uma vez se declara furioso com a insensibilidade da direção da Petrobras, promete agir, o mesmo acontecendo no Legislativo e no Judiciário.
Sim, agir e agir rápido, sem fórmulas mágicas ou invencionices, e começando pela abertura, transparente e íntegra, das contas da Petrobras, indesejada desde a sua fundação, mas exclusivamente por elementar cobiça de governos e das grandes petrolíferas.
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