Opinião

EDITORIAL | O socorro que não chega

EDITORIAL | O socorro que não chega
Crédito: Ueslei Marcelino/Reuters

O Banco Central mais uma vez revê, e mais uma vez para menos, suas previsões para o comportamento do Produto Interno Bruto (PIB), melhor e mais aceito indicador do comportamento da economia, agora estimando uma queda de 5,5% no corrente ano e se aproximando das projeções internacionais, que projetam em 6% a queda do PIB brasileiro em 2020.

Um tombo que estará entre os maiores de todos os tempos e indicativo de uma recuperação lenta e difícil, além de ainda efetivamente imprevisível, uma vez que não há como antecipar a evolução da pandemia que está na origem de todo esse estrago.

Tão ou mais preocupantes são estes dados quanto se constata que a administração federal tem sido lenta, confusa até, no processo de construir alternativas, no campo da economia, capazes de aliviar as pressões atuais e as que são previstas, traduzidas em aumento brutal no desemprego e número também sem precedentes de falências principalmente entre micro e pequenos negócios, aqueles com menos capacidade de resistência, mas que são também os maiores geradores de empregos e, perversamente, os que menos contam com o apoio que nesse momento para a maioria é sinônimo de sobrevivência.

Apenas para lembrar, a liberação de créditos destinados a cobrir parte das folhas de pagamento de pequenos negócios que estão compulsoriamente paralisados, tinha alcançado, ate o início do mês, apenas 1% da demanda. E sem sinais de que a situação tenha melhorado desde então.

A realidade é aquela que, na segunda-feira, um desses empresários descrevia em entrevista na televisão. Depois de mais de 50 dias parado e com suas pequenas reservas se aproximando do esgotamento, resolveu procurar um banco, intermediário de repasses de recursos emergenciais do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Ouviu como resposta que seria “muito complicado” acessar aquelas linhas e recebeu oferta de crédito do próprio banco, porém a um custo 50% maior, fora de suas possibilidades.

Parece faltar até mesmo compreensão da realidade e sua gravidade. Da mesma forma, falta o entendimento de que sem socorro, sem alívio nas pressões que o próprio Estado exerce, o tombo será maior e a recuperação mais lenta e mais penosa.

Faltam planos objetivos, falta articulação entre governo e agentes econômicos, enquanto um tempo precioso vai sendo perdido sem que surjam propostas com musculatura para enfrentar os desafios que já fazem parte do presente e mais aqueles que estão no horizonte.

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