Opinião

EDITORIAL | O tamanho da encrenca

EDITORIAL | O tamanho da encrenca
Crédito: Adriano Machado/Reuters

O presidente da República já disse e repetiu que o País está quebrado e seu ministro da Economia chegou ao governo dizendo que se a cotação do dólar chegasse a cinco reais o mundo estaria acabado. A marca foi batida e felizmente o País, mesmo que cambaleante, continua de pé, com alguns avanços que ainda estão longe de compensar as perdas dos últimos anos, agora agravadas pela pandemia.

É justamente nesse contexto de restrições, ou talvez exatamente por conta delas, que a administração federal resolve avançar no que chama de reforma tributária, anunciando ganhos para o contribuinte e para os mais pobres, o que estudiosos não confirmam.

De fato, quem souber somar 2 + 2 terá condições avaliar que de momento é absolutamente impossível reduzir a carga tributária e que absolutamente não fecham as contas apresentadas nas últimas semanas, sugerindo o contrário. De fato, e como já foi dito aqui, as condições que se apresentam sugerem exatamente o contrário.

É o que aponta o secretário da Receita Federal, José Tostes Neto, ao mencionar supostos benefícios a serem concedidos aos contribuintes do Imposto de Renda e que, segundo ele, teriam que ser “compensados” de alguma forma. Para o bom entendedor, meia palavra basta. Indo direto ao ponto, não dá para cortar e se nada mudar será preciso aumentar a carga tributária.

Nessas discussões que não parecem fazer sentido e de fato não fazem, servindo no máximo para produzir ilusões que possam ser vendidas nas eleições do próximo ano. E fica faltando alguém capaz de fazer ouvir em Brasília, nos seus gabinetes mais graduados, a elementar lição que as donas de casa conhecem bem.

Se falta salário, se falta dinheiro, resta como única alternativa cortar despesas. Desse assunto, aparentemente, no governo e na esfera pública ninguém parece querer ouvir falar, mesmo sabendo que na marcha atual o fôlego pode se esgotar irremediavelmente em menos de dois anos.

Em Brasília, onde a linha do horizonte, para os políticos pelo menos, não vai além de outubro do próximo ano, pode parecer muito tempo. Da mesma forma que seria bastante incômodo, agora, falar em ajuste fiscal, com o cuidado de lembrar onde exatamente estão alocadas as maiores despesas públicas.

Um desafio necessário, mas que aliados de pura conveniência, no Legislativo, não aceitam, enquanto cutucar o Judiciário, os dois poderes onde os gastos são mais pródigos, seria empreitada também de alto risco, além de sugerir provocação. Eis o tamanho da encrenca.

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