EDITORIAL | Obra que não acaba
São, por baixo, pelo menos 40 anos de espera e, pior, sem garantia de que este prazo possa estar próximo do fim. Estamos falando da duplicação da BR-040, que liga o Rio de Janeiro a Brasília, passando por Belo Horizonte, que deveria estar concluída faz tempo, mas continua limitada ao pequeno trecho entre Rio e Juiz de Fora, ou menos de 300 quilômetros.
Estamos falando da principal ligação por terra entre a Capital Federal, Belo Horizonte e o Rio de Janeiro, estamos falando de uma rodovia sob concessão e sujeita a pedágio. Pior ainda, poderíamos lembrar o trecho Juiz de Fora-Brasília, que a titular da concessão já renunciou à condição, embora continue operando o trecho e cobrando pedágio, embora as obras estejam suspensas há tempos, sem que a duplicação tenha avançado conforme o contratado.
Está ruim e pode ficar pior com o fim do contrato com a Concer, que responde pelo trecho Rio-Juiz de Fora, em marco do próximo ano, sem perspectiva de renovação. Ao que se comenta, a ideia, por enquanto sem confirmação oficial, é que terminado o contrato em vigor o trecho seja devolvido ao Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), o que determinaria o fim da cobrança de pedágio até que nova concessão seja feita. E seria esta a intenção, mas em um trecho estendido que iria até Belo Horizonte ou Sete Lagoas. Para frente, rumo a Brasília e mais 700 quilômetros em que a duplicação nada avançou, nada é sabido, por enquanto, quanto às intenções do Ministério da Infraestrutura.
Da mesma forma e por óbvios motivos fazer qualquer previsão sobre a retomada das obras e sua efetiva conclusão seria, a estas alturas, não mais que exercício de adivinhação. Vergonha, constatação explícita da incapacidade e desinteresse de sucessivas administrações com relação à recuperação, correção de traçado e, finalmente, duplicação de uma rodovia construída há mais de 60 anos, concebida como principal ligação por terra entre a antiga e a nova capital do País. Hoje ligação precária e insegura entre três das maiores cidades brasileiras e parte de um sistema rodoviário por onde trafega mais de 60% das mercadorias transportadas no País.
Seria ocioso indagar o que houve, mas ainda perguntar pelo destino do pedágio recolhido anos a fio, sem a contrapartida dos serviços e melhorias contratados. Ocioso também nos parece, nas condições atuais, perguntar pela nova concessão, prevista para 2022, e o mesmo sobre as ambiciosas obras de remodelação e ampliação do trecho que corta a serra de Petrópolis, na subida, mais uma daquelas que deveriam estar prontas para a Copa do Mundo. A julgar pelo ritmo, quem sabe na festa do centenário de Brasília, que não está assim tão longe.
Ouça a rádio de Minas