Opinião

EDITORIAL | Obrigações são coletivas

EDITORIAL | Obrigações são coletivas
Crédito: REUTERS/Adriano Machado

Faz algum tempo, se não estivermos enganados, antes da posse, um dos filhos do presidente Bolsonaro afirmou que para ocupar o Supremo Tribunal Federal (STF) precisaria apenas de um cabo e de um jipe. Lembrada agora, a declaração soa como uma espécie de aviso prévio em relação ao que viria na sequência, mais recentemente com o presidente da República afirmando que pode não haver eleição no próximo ano, acrescentando depois que pode sair das tais “quatro linhas” da Constituição e em seguida emendar que seria muito fácil para ele dar um golpe, implantar uma ditadura, sobretudo porque tem as Forças Armadas nas suas mãos.

Por mais incrível que possa parecer, tudo isso de alguma forma tem soado natural, como se não fosse mais que o resultado do gênio do presidente da República. Como disse o presidente do Credit Suisse no Brasil, estamos igual ao sapo na panela, com a temperatura subindo e todos fingindo que não está acontecendo nada, sem perceber que temos que pular da panela fervente enquanto ainda é tempo.

Ele aponta, com propriedade, uma certa leniência, como se todos dissessem, a esfera econômica inclusive, que a crise institucional, que já ultrapassou todos os limites do razoável, não nos dissesse respeito. E quem diz isso é também um dos signatários do manifesto que, já com mais de sete mil assinaturas, numa lista em que figuram alguns dos nomes mais ilustres do País, defende a democracia e reclama que seja cumprido o calendário eleitoral.

A cada dia que passa fica mais evidente que o chefe do Governo reage a seu modo e na proporção de seu enfraquecimento, confirmado por diferentes pesquisas de opinião que, inclusive, antecipam sua derrota nas eleições do próximo ano. Daí a intensificação também da campanha para desacreditar o sistema de votação, que seria vulnerável a fraudes, das quais dizia ter provas nunca apresentadas. Tudo isso, quem sabe, para preparar o terreno para acontecimentos ainda mais indesejáveis no próximo ano, enquanto a gestão pública prossegue precarizada e os problemas verdadeiros ficam de lado.

Não é de se acreditar, absolutamente, que no seu todo as Forças Armadas endossem tal comportamento, muito menos que permitam que os devaneios do presidente se concretizem. Não há disposição e, sobretudo, ao contrário do ocorrido em 1964, não existe sustentação externa para uma empreitada desse tipo, que evidentemente não se resolve com um soldado e um jipe. De qualquer forma o estrago está feito, representando para o Brasil, em todos os planos, prejuízos de monta, valendo recordar que a estabilidade institucional é a maior conquista de qualquer país, ao mesmo tempo que depende do senso de responsabilidade e compromisso de cada cidadão.

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