EDITORIAL | Onde estão as propostas?

Dia desses, numa de suas manifestações públicas, o ex-presidente Lula, novamente candidato, disse que na hipótese de ser eleito não concorreria a um segundo mandato. Sua fala foi repetitiva e nada original mas ainda assim expõe situação absurda. Antes mesmo de eleição no Brasil já se pensa em reeleição e dessa forma os políticos estão permanentemente em campanha, varrido para debaixo do tapete o preceito segundo o qual reeleição aconteceria exclusivamente como consequência previsível do reconhecimento das qualidades do eleito, e nunca, como é dito abertamente e sem qualquer constrangimento, do fato de ser ele o dono da caneta que tem o poder de distribuir verbas e favores de toda natureza.
No Brasil, desde que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso recomendou aos incautos que esquecessem tudo que havia dito e escrito para mais a vontade poder defender a reeleição em benefício próprio, tem sido assim. E o resultado, todos sabemos, não foi nada bom, abandonada também a ideia de que, além de prêmio a uma boa gestão, a reeleição dilataria o tempo necessário para a realização de um programa de governo mais robusto. Eis o contexto que ajuda a entender o buraco em que o Brasil foi jogado, sendo de todo conveniente recordá-lo quando são formalmente apresentadas as candidaturas e chapas para a eleição de outubro.
Tudo isso fruto de manobras políticas de toda ordem, em que o que seria impossível em passado recente acontece, como se ninguém tivesse memória, inclusive para lembrar daqueles candidatos que chegaram a registrar em cartório compromisso de que não abandonariam seus postos para disputar outras posições. Estamos vendo a política no seu sentido mais rasteiro, nada que lembre os sempre citados ideais republicanos, com meras ambições ocupando todos os espaços. O resto, todo o resto que vai se transformando numa conta que compromete gerações, fica de lado, esquecido como se não tivesse a mínima importância.
Quem, afinal, tem um projeto para o Brasil, resposta efetiva aos desafios que se multiplicam, numa visão que deveria ir muito além de mandatos para de fato traduzir a vontade coletiva ou necessidades que não podem ser vistas conforme o ângulo de observação de cada grupo? O que propõem, de fato, os candidatos que se apresentam, mas não têm uma única referência ao planejamento, nada, absolutamente nada, que lembre, para ficarmos no melhor exemplo, o Plano de Metas de Juscelino Kubitschek?
Todos sabemos que as dificuldades que já são muito grandes serão ainda maiores pela frente, o único dado concreto, a única certeza neste vazio de ideais, propostas e compromissos.
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