EDITORIAL | Onde estão os inimigos?

No justo momento em que a pandemia parecia se aproximar do fim, com os mais otimistas acreditando que, passado o perigo maior, a humanidade afinal mobilizaria seus recursos e seu saber para ocupar-se da construção de uma sociedade mais equilibrada, do ponto de vista social e econômico, surge o conflito bélico entre Rússia e Ucrânia, na realidade mais um capítulo da Guerra Fria, do enfrentamento entre as grandes potências. Apostar no que acontecerá em futuro próximo é aventura bastante arriscada, sobretudo agora com nova razão para alimentar preocupações.
Vem da China a notícia do surgimento de uma nova variante da Covid-19 e o país, num sinal de claro alarme e conforme acontecido em outras ocasiões, estabeleceu imediato e rigoroso isolamento da área onde a variedade foi encontrada, ao mesmo tempo em que alertava a Organização Mundial de Saúde (OMS). No mesmo dia em que a notícia corria o mundo, em Washington, nos Estados Unidos, o presidente Biden, em solenidade com ares festivos e muitos aplausos, mandava liberar mais U$ 13 bilhões para a compra de armas destinadas à Ucrânia.
Mais discretamente, a Comunidade Europeia fazia o mesmo, sem que se possa dizer ao certo quanto já terá custado essa guerra, que não é de defesa de um país atacado e sim tentativa de ampliação de áreas de domínio. Tudo isso sem contar que no receituário político dos Estados Unidos nada melhor que uma guerra para anabolizar um presidente nada empático.
Cabe indagar, nesse momento em que a aliança ocidental promove, através da imprensa e outros meios, um esforço de propaganda e controle da informação talvez sem precedentes, com o noticiário limitado a propagar a visão oficial, unilateral. O que pensariam os que se julgam senhores do mundo a respeito da pandemia, das fatalidades e dos riscos ainda presentes, seja por conta das mutações que se repetem com velocidade crescente, seja devido às incertezas ainda predominantes nos meios científicos e médicos. Ou, finalmente, na ótica dos riscos representados pelas vastas áreas, especialmente na África, sem cobertura vacinal mínima.
Nesse momento de tantos riscos e incertezas possivelmente ainda maiores, caberia perguntar como e porque estes líderes agem como se não se dessem conta de quem é e onde se encontra o verdadeiro inimigo, aquele que recomenda, exige, na realidade, mobilização absoluta em nome e em defesa de todos os humanos.
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