EDITORIAL | Onde mora o problema

As eleições de outubro se aproximam e todas as atenções estão concentradas nas indicações para candidatos à Presidência da República, como se nada mais importasse. As candidaturas aos governos estaduais e às prefeituras mais importantes, das capitais, são como que pano de fundo desse processo, destinadas exclusivamente a composições que possam contribuir para a vitória maior.
Com relação ao Legislativo, tudo parece ainda mais distante e desimportante, inclusive com a costumeira caçada a celebridades, artistas geralmente, os tais puxadores de votos para candidaturas menos robustas. Repete-se o quadro de sempre, os mesmos erros e os mesmos vícios, agora sem que nem mesmo se ouça dizer, ainda que da boca para fora, que haverá mudanças, que antigos e mais legítimos valores da política serão afinal resgatados.
Numa situação bastante grave, onde o que não nos faltam são problemas, este é um quadro desanimador e, evidentemente, do mais absoluto descrédito para o Legislativo, como se a população não se desse conta que ali, onde reina soberano e absoluto o tal centrão, que passou por todos os governos depois da redemocratização, estão os problemas tanto quanto as perspectivas de solução. Quem sofre na pele, esteja do lado dos deserdados ou não, os efeitos de erros acumulados e aumentados durante tanto tempo, deveria finalmente entender onde focar suas atenções.
Para não reeleger um fulano chamado Igor Kanário, deputado federal pela Bahia, que apresenta um programa de rádio em Salvador, com duas horas de duração, tempo que por elementar obrigação deveria ser ocupado com a sessão da Câmara, que se realizava no mesmo momento em Brasília. Não por acaso ele é o segundo deputado com mais faltas não justificadas, além de membro titular da bancada invisível, ou fantasma, gente que, numa situação minimamente normal, em que os próprios parlamentares dessem apreço a suas responsabilidades, já deveriam ter sido removidos.
Colocamos a questão nesses termos, como poderíamos procurar chamar atenção para inúmeros outros aspectos, todos eles depreciativos, inclusive para os parlamentares corretos, bem intencionados, mas que pecam por omissão, por não enxergar e não denunciar o que se passa à sua volta.
O comentário de hoje certamente não é um sermão que possa ser lido pelos próprios. Não nos iludimos a respeito, não acreditamos que o radialista de Salvador possa se emendar. Queremos é chamar a atenção dos eleitores para a crucial necessidade de melhorar a qualidade do Legislativo como única condição para restaurar as esperanças num futuro melhor.
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