Opinião

EDITORIAL | Onde o risco é ainda maior

EDITORIAL | Onde o risco é ainda maior
Crédito: Fábio Rodrigues Pozzebom / Agência Brasil

Assumidamente e sem qualquer disfarce, o governo que está terminando teve entendimento bastante peculiar do que seria cultura e sua importância. Preferiu enxergá-la como ameaça, inimiga até, coisa e ferramenta de esquerdistas. Nada a estranhar, dadas as condições que se apresentavam, e certamente muito por lamentar, do tempo perdido às sombras surgidas, bem como os modestos programas e estruturas desmontados, coisa própria de governos que entendem o pensar como risco e ameaça. Cabe entender e festejar que começa um novo ciclo, com menos sombra e mais luz, além de capacidade para enxergar o que não tem sido enxergado, muito além do capítulo que se aproxima do fim ou das leis de incentivo de que tanto se falou nos últimos quatro anos.

Cabe entender, em primeiro lugar, que os processos de colonização no passado tiveram como uma de suas ferramentas mais potentes a cultura imposta de dentro para fora, para amansar e para conquistar. A rigor, não mudou quase nada, se não as fontes de origem, que evidentemente variaram desde que aqui chegaram os padres jesuítas com a missão de cristianizar os “selvagens” que, pagãos na sua perspectiva, sequer mereciam ser associados à condição humana. Uma sutil domesticação, embalada no que se entendia como os mais elevados sentimentos. E uma ideia de propaganda, disseminada por ferramentas culturais, eternamente em expansão.

Exemplo mais claro e objetivo do que estamos tentando demonstrar e ao mesmo tempo alertar: dados recentes, divulgados e assimilados pela maioria como perfeitamente naturais, dão conta de que o filme Avatar chegou a ocupar 72% de todas as salas de cinema no Brasil, ficando modestos 9% para “Wakanda” e outros 7% para “Mundo Estranho”. Traduzindo, no período considerado, 88% das salas de cinema no País estavam ocupadas por obras de Hollywood. Nada a estranhar, tendo em conta que processos de distribuição e salas de cinema são igualmente controlados por empresas norte-americanas.

Nessas condições, claríssimo, filmes brasileiros e outras cinematografias, especialmente a europeia, estão condenados ao desaparecimento. Um círculo que se fecha, com os aparatos digitais de massa, cujo controle tem a mesma origem, reforçando uma máquina de propaganda como nunca se viu antes e produzindo um maleficio, em termos de virtual apagamento de nossa própria cultura, nunca visto anteriormente. Será inocente imaginar que tudo isso possa ser obra do presidente que encerrou seu expediente conhecidos os resultados da eleição. Por último, que não seja utopia esperar que os novos governantes tenham olhos para enxergar como brasileiros para nos defender dessa colonização moderna.

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