EDITORIAL | Os canhões e o petróleo

Quem disse que o petróleo move o mundo, faltou acrescentar que move e governa. Foi assim ao longo do século 20, desde que tomou a primazia antes reservada ao carvão mineral, e ganhou força, com uma ação casada e muito bem planejada, com o incremento da produção de veículos movidos por motor à explosão, tendo o petróleo refinado como combustível. Um ciclo que se aproxima do fim, por esgotamento e pelos danos ambientais que são finalmente percebidos. Nada porém que já baste para alterar o presente, para retirar o petróleo de um protagonismo que já passa dos cem anos.
Nas últimas semanas, depois de um ciclo de baixa que alegrou consumidores e contrariou produtores, o preço do barril deu um salto de U$ 60 para U$ 100, a mais alta cotação dos últimos anos. Nada que, como o mercado diz ser natural e previsível, que refletisse queda da oferta ou expansão da demanda e, como é mais comum acontecer, fruto da insegurança e incertezas provocadas pelas tensões entre Rússia e Ucrânia, tendo como pano de fundo os Estados Unidos e a Otan, no melhor estilo da Guerra Fria. O ataque russo chegou a ser dado como iminente, questão de horas chegou a ser anunciado em Washington, enquanto Moscou reafirmava que não existia hipótese de admitir ter como vizinho de porta um sócio da Otan, que pode ser muito propriamente definido como o braço militar norte-americano na Europa Ocidental.
Enquanto a imprensa tradicional cuidava exclusivamente de amplificar o discurso de Washington, fontes independentes diziam ser muito improvável um ataque que pudesse levar a um conflito de maiores proporções. Como tantas vezes no passado, seria apenas um blefe, em que o detalhe menos importante era o destino dos ucranianos. A questão em jogo era o gás natural e o petróleo que, vindo do antigo bloco soviético, abastece a Europa, que dele não tem como abrir mão. Pelos mesmos motivos, consideram os estudiosos que embora os Estados Unidos, que já deu sinais de recuo, ainda tentem parecer à frente das tropas, no duro, no duro a questão será resolvida entre Rússia e Ucrânia de um lado, Alemanha e França do outro. E sem tiros.
Melhor assim, evidentemente, mas cabe indagar como ficará a questão dos preços do petróleo, questão de interesse do mundo inteiro, principalmente para os que mais dependem dos humores de seus verdadeiros donos. O Brasil está nessa conta, evidentemente, depois que, ignorando tudo que deveria considerar, resolveu promover alinhamento de preços com o mercado internacional, produzindo uma conta que não tem como pagar. E agora, véspera de eleições, tenta fazer uma mágica, na forma de subsídios, para acalmar os ânimos da população, num movimento que tem tudo para dar errado.
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