Opinião

EDITORIAL | Os erros que custam caro

EDITORIAL | Os erros que custam caro
Crédito: REUTERS/Paulo Whitaker

Na visão da Petrobras, já no mês de abril o suprimento de derivados de petróleo no País poderá ser comprometido. Evidentemente que a situação internacional, onde as únicas certezas são justamente as incógnitas, está na raiz das preocupações, porém com um detalhe que até agora não era conhecido. É que os estoques de derivados, gasolina e diesel estão baixos, o que pode ser crítico em algumas regiões. Ainda conforme o que é comentado nos bastidores da estatal, os preços internos ficaram sem reajuste durante 75 dias, apesar das flutuações do dólar, o que teria feito com que importadores independentes adiassem suas compras, reduzindo estoques.

Colocando a questão em termos mais simples, facilitando a compreensão do que se passa, seria possível afirmar que o Brasil caiu na ratoeira com sua política para o petróleo e se vê agora na situação de ser detentor de grandes reservas, autossuficiente e exportador de óleo bruto, mas dependente da compra de refinados, a preços ditados pela especulação internacional. Em síntese, nada do que foi planejado, quando, nos idos da década de 70, ainda no século passado, o País fez um esforço gigantesco de prospecção e extração, desenvolveu a tecnologia que viabilizou a busca de óleo em águas profundas, tudo isso exatamente para alcançar a independência, para livrar-se da incômoda situação que ficou clara na crise daquele período.

Obtivemos sucesso acima das melhores expectativas, fizemos o que parecia impossível, mas, tudo faz crer, não resistimos às pressões de quem não nos quer ver como grande player internacional. A ideia central, ainda presente e forte em alguns setores influentes da vida nacional, é que o monopólio atrasaria tudo, posto que ineficiente por natureza. Pior ainda, alguém teve a infeliz ideia que investir em refino não seria o melhor a ser feito. Assim as refinarias existentes foram sendo progressivamente sucateadas e projetos de novas construções abandonados. Deixar de fazer, pensavam alguns, seria uma forma inteligente de dar fim à corrupção, da qual na realidade não é possível saber se não teria sido apenas pretexto para consumar ataques que começaram antes mesmo da fundação da Petrobras.

Eis porque o Brasil se encontra hoje na paradoxal condição de exportar cerca de 2 milhões de barris/dia de petróleo e ao mesmo tempo correr o risco de que falte combustível para sua frota, mesmo que os preços tenham sido elevados para mais que as piores previsões. Petróleo, bem sabemos e igualmente deveriam saber os políticos e gestores públicos, é questão estratégica, básica para o atendimento aos interesses nacionais e não, como tentam fazer crer, para satisfazer acionistas, com lucros que vão muito além do razoável, e fingindo não enxergar que o Estado brasileiro, todos nós de certa forma, continua sendo o acionista majoritário dessa empresa da qual todos deveriam se orgulhar.

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