EDITORIAL | Os números da tragédia

Cem mil mortos contados até agora, na mais trágica dimensão da pandemia que fez do Brasil, em larga medida por conta da inépcia na esfera pública, o seu segundo alvo, perdendo apenas para os Estados Unidos, onde, e com certeza não por mera coincidência, desconhecer o tamanho do problema foi uma opção política.
A medida maior, aquela que não se pode reparar, mas não a única. São igualmente trágicos os números relativos à destruição de empresas e de postos de trabalho, conforme demonstra balanço divulgado nestes dias pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Em apenas três meses, entre abril e junho, 8,9 milhões de brasileiros perderam seus empregos, o que corresponde a quase cem mil postos de trabalho eliminados a cada dia nesse período. No primeiro trimestre havia 92,2 milhões de trabalhadores ocupados, número reduzido a 83,3 milhões no segundo trimestre, ou o equivalente a 12,8 milhões de desempregados, considerados aqueles que procuraram novas oportunidades de trabalho.
Ou seja, não entram nessa conta os 13,8 milhões de indivíduos que não procuraram trabalho, gente que não acredita na possibilidade de encontrar uma porta aberta. Totalizando os números e imaginando que parte desse segundo contingente se movimentará, o percentual de desempregados poderá oscilar entre 20% e 25%. E o retrato ainda não está completo. Cabe acrescentar que as pessoas com mais de 14 anos de idade que não estão trabalhando correspondem a 52% da população apta a ocupar um lugar no mercado de trabalho.
São números conhecidos, divulgados e não contestados, mas ainda incapazes de provocar a reação, na forma de mobilização geral, necessária e esperada. Em Brasília, mundo à parte, nesse exato momento as maiores discussões em torno de uma reforma tributária capaz de injetar ânimo nos agentes econômicos, são sobre o possível fim da desoneração das folhas de pagamento em 17 setores com uso intensivo de mão de obra. Difícil acreditar, difícil deixar de perceber que qualquer gesto de conteúdo positivo mira frutos a serem colhidos em futuras eleições.
Estudiosos e organizações globais acreditadas já anteciparam que a recuperação da economia será lenta e mais difícil em países como o Brasil, somando dificuldades que equivalem a um retrocesso cuja extensão ainda não se pode medir. Seremos mais pobres, estaremos ainda mais distantes do dito primeiro mundo, do futuro que para os brasileiros continuará sendo uma vaga promessa. Já foi dito, mas é preciso repetir: tomar conhecimento da realidade é o primeiro passo para que ela possa ser modificada.
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