EDITORIAL | Os vícios de sempre

A campanha eleitoral, que em termos práticos nunca para, gerando males que assim deveriam ser percebidos e combatidos, agora é oficial, aberta, conforme as regras do processo. Os candidatos estão nas ruas, numa movimentação ainda relativamente contida, na qual é facilmente percebida a repetição de rituais que, embora consagrados, se pesados e medidos não fazem bem à imagem de quem busca votos. Da passagem por um botequim para tomar cafezinho ou comer pastel, da criança carregada no colo ao anônimo efusivamente abraçado temos mais do mesmo, exibição explicada de falsidade.
Isso vale para promessas, repetidas conforme a conveniência do momento, em que todos parecem ter soluções prontas e acabadas, de fácil implementação e capazes de nos levar do inferno ao paraíso da noite para o dia. Aceitar esse jogo como normal e natural, sem qualquer tipo de questionamento, é o mesmo que aceitar, adiante, que o dito fique pelo não dito, como tem acontecido. Interessante notar que, quando conveniente, são exibidas as mazelas que o País enfrenta, o tamanho das dificuldades por superar, assim como os erros que as explicam. Nada porém suficiente para barrar soluções de palanque, sem o suporte de estudos, planejamento e, sobretudo, compromisso verdadeiro, definidor de políticas de Estado, permanentes, e não de governos ou partidos.
Todos sabemos, ou deveríamos saber, que os próximos anos não serão fáceis para o Brasil, justamente porque em nome da política rasa, decisões cruciais foram sendo adiadas, a começar da reforma política, ao mesmo tempo em que a gestão pública se deteriorou. O que temos pela frente, inexoravelmente, é a conta a ser paga, é o custo Brasil que parece esquecido, mas reduz a competitividade e sufoca as empresas, enquanto a administração pública sucumbe ao peso que não é mais capaz de suportar. Um mundo, percebe-se, muito diferente daquele que aparece nas campanhas, onde os erros dos adversários são apontados, enquanto, repetimos, as soluções parecem fáceis e ao alcance das mãos.
Como afinal entender, menos ainda aceitar, que seja lembrado que o País está quebrado e não tem como suportar suas contas, mas ao mesmo tempo são propostas soluções que não têm como parar de pé, como garantia de renda mínima, permanente, para todos que delas necessitem. E como aceitar que seja sequer mencionada a possibilidade de criação de novos ministérios, como se uma placa na porta de algum prédio em Brasília pudesse sozinha operar milagres. Tanto pior quando ninguém disse ainda como pagar as contas que já estão penduradas.
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