EDITORIAL | Paciência tem limite

Num ambiente que tem sido constantemente turbulento, chamou pouca ou nenhuma atenção o anúncio da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) suspendendo, pela quarta vez, o leilão de duplicação da BR-381, no trecho conhecido como Rodovia da Morte, entre Belo Horizonte e Governador Valadares. A suspensão foi dada como indefinida e, nos bastidores, explicada como decorrência da constatação de que não seriam apresentadas propostas no leilão que deveria acontecer exatamente hoje. É uma história antiga, que se prolonga pelo menos desde o governo do presidente Fernando Henrique e com objetivo bastante ambicioso.
Em primeiro lugar, melhorar as condições críticas de longa data, da ligação terrestre entre Minas Gerais e Espírito Santo, facilitando o acesso ao porto de Vitória. Segundo, criar um corredor entre Belo Horizonte e o Vale do Aço, em condições de potencializar o desenvolvimento econômico da região, minimizando a atual dependência do parque siderúrgico da Usiminas. E tudo isso, evidentemente, com cuidados para melhorar o traçado, duplicando numa primeira etapa o trecho mais crítico em que a combinação entre volume de tráfego e deficiências estruturais fez surgir a Rodovia da Morte.
Para responder aos desafios que estão colocados e promessas tantas vezes repetidas, além de tentativas frustradas de atacar as obras, pretendia-se agora entregar em regime de concessão trecho de 670 quilômetros, abrangendo parte da BR-381 e BR-262, com 402 quilômetros de duplicação, 228 quilômetros de faixas adicionais, além de 125 correções de traçado e mais 40 passarelas. Tudo isso a um custo estimado de R$ 7,3 bilhões. Nas contas do governo, agora retiradas da mesa de negociações, o suficiente para entrega dos trechos Belo Horizonte – Governador Valadares, da BR-381 e mais João Monlevade – Viana, este na BR-262 chegando bem perto de Vitória, no Espírito Santo. Um projeto, cabe lembrar, que lembra muito outro apresentado em 2013, no governo Dilma Rousseff, também arquivado por falta de interessados.
Nos corredores de Brasília comenta-se que a administração federal não jogou a toalha e já está trabalhando numa nova proposta, com conteúdo mais atraente para possíveis investidores e que poderá ser transformada em oferta ao mercado ainda neste ano. Para quem já esperou tanto, nada a fazer se não continuar esperando porque, afinal, se o apelido Rodovia da Morte pode afinal estar afugentando investidores, na mesma proporção deveria estar provocando gestores públicos, que tem o dever de apagá-lo.
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