EDITORIAL | Padrão que se repete

Para dizer o mínimo e manter a elegância, sem agredir leitores que por suposto sabem do que estamos falando, o senhor Olavo de Carvalho é figura das mais controvertidas. Alguns o qualificam como filósofo, outros dizem que seria próximo ao presidente da República e seus filhos, além de guru da dita ala ideológica do governo.
Mesmo quem o conhece foi pego de surpresa com seu mais recente destempero, em que não faltaram agressões do mais baixo calão ao próprio presidente da República. Coisas de um excêntrico, de alguém que estaria acima dos padrões convencionais, diriam os que o defendem.
Não vem ao caso. Chamou atenção, exatamente pela forma e conteúdo dos impropérios do guru, o absoluto silêncio dos que, no governo, lhes são próximos, aí incluídos o presidente e filhos, alvos da artilharia do aliado. Nesse ponto, surge a segunda questão que chama atenção.
Carvalho disse com todas as letras que se sentia abandonado, sugerindo algo talvez próximo da traição, além de se declarar sem condições de pagar suas contas, inclusive decorrentes de condenações em processos judiciários.
Seu recado foi imediatamente percebido e, pelo menos para constar dos registros, empresários amigos e aliados foram instados a fazer uma espécie de vaquinha, dizia-se em Brasília com todas as letras, para acalmar o ofendido.
Assim foi feito, com uma naturalidade que também espanta, sobretudo porque em nenhum momento foi esclarecido porque o guru se considerava credor, sem nenhum pejo para cobrar a conta. Bastante intrigante, num mundo onde já não parecem existir espaços para este tipo de perplexidade.
Ou com o fato de que o acerto deve ter sido rápido, seguido de uma também rápida mudança de roteiro, em que o guru entrou no rol dos que enxergam inimigos externos, com lugar destacado para o Supremo Tribunal Federal (STF), interessados em não deixar o governo federal dar certo.
Nesse plano pelo menos tudo se arranja, ao mesmo tempo que se pode concluir que a autointitulada nova política rapidamente aprendeu os métodos e costumes da velha política, agindo como se tudo fosse natural ou se não devessem explicações ao comum dos mortais.
Fosse outra a realidade, estivéssemos todos menos acostumados, ou passivos, diante dos mal feitos, e a história resumida neste comentário, de certa forma já esquecida e incorporada aos arquivos do passado, renderia muito mais. E não exclusivamente por conta dos personagens aqui apontados, mas diante da triste constatação de que este é, tem sido, o padrão. E faz tempo.
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