EDITORIAL | País na beira do precipício

Seria a cura de todos os males. Afastada a presidente Dilma Rousseff, o País rapidamente reencontraria seus caminhos, gerando confiança e padrões mais elevados de gestão capazes de trazer de volta investidores e crescimento econômico. Era ilusão, talvez antes um grande engodo nutrido exclusivamente pela ambição. Michel Temer nem de longe realizou o sonho de completar sua breve gestão comemorando redução drástica nos níveis de desemprego. Mais uma decepção e novas esperanças, agora voltada para a figura de um candidato que se apresentava como disposto a fazer diferente, rompido com a velha política. Jair Bolsonaro, depois de uma vitória consagradora, tomou posse em janeiro e as expectativas eram de que com ele o ajuste fiscal, que para começar tomaria a forma da reforma do sistema previdenciário, finalmente aconteceria, mudando as expectativas.
Os cem primeiros dias de governo, período que se considera propício à realização de milagres, ficaram para trás e nada aconteceu, se não as evidências de um preocupante nível de desarticulação dentro do próprio governo, aparentemente mais preocupado com pequenas questões, iludido com a ideia de que seria possível governar através das redes sociais, que propriamente com os grandes desafios a serem enfrentados. Assim, vamos chegando ao fim da primeira metade do ano e as notícias não são boas. No primeiro trimestre do ano a economia teve desempenho negativo, entrando em marcha a ré depois de um breve ciclo de modesta recuperação, situação cujo aspecto mais trágico é o aumento do desemprego. Para os investidores, desconfiança e carteiras bem guardadas, para quem toca negócios, esperanças reduzidas.
Do Ministério da Economia, e ainda sem confirmação, vem a notícia de que recursos do FGTS poderão ser liberados para dar algum fôlego ao consumo e, assim, à economia. Ação emergencial, atrasada, enquanto a cúpula dos três poderes discute um grande acordo, ou armistício, para somar forças, gerar harmonia e acelerar o processo de reforças, já com a consciência de que os problemas não estão concentrados exclusivamente na questão da Previdência. Se estas conversações prosperarem, forem sérias e ágeis, alguma coisa melhor poderá finalmente acontecer, com o País, ainda que muito atrasado, buscando as condições de equilíbrio financeiro e de uma gestão pública que seja de fato baseada no mérito, nos resultados construídos e não mais nas vantagens auferidas. Mais que possível, trilhar este caminho parece, e cada vez mais, a alternativa que nos resta. Afinal é o próprio ministro da Economia quem tem dito que a outra possibilidade é um buraco escuro e sem fundo.
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